SIMONE JUDICA - SÃO-ROQUICES

A PIOR NOTÍCIA DO ANO

Por: Simone Judica*

A fábrica do Grupo RB Health em São Roque, na Vila Nova São Roque, onde eram produzidos preservativos das marcas Olla e Jontex (foto: Jornal da Economia/ Rafael Barbosa)

          Embora separados por cerca de cinquenta dias do término do ano e cientes de que nesse período ainda há muito a acontecer, parece-me que a pior notícia que poderia sobrevir aos são-roquenses em 2019 já chegou. Refiro-me ao fechamento da indústria do Grupo RB Health em São Roque, mais conhecida como a antiga fábrica Inal – Indústria Nacional de Artefatos de Látex, acompanhado da demissão de quase  trezentos trabalhadores, anunciado na última segunda-feira (4).

            A triste e preocupante novidade, inesperada até mesmo para os empregados mais próximos da diretoria executiva do multinacional Grupo RB Health, causa impacto direto não somente sobre todos os demitidos e suas famílias, como também à cidade como um todo.

            Desnecessário relatar como o desemprego repentino, em final de ano e tempos de crise, abala uma família, principalmente se nela há crianças e se a moradia em que vive é alugada.

            Pensar na proporção desse abalo em aproximadamente trezentos núcleos familiares ao mesmo tempo, em uma cidade como São Roque, onde há muitos anos o mercado de trabalho apresenta escassez na criação de novas vagas e na absorção de mão de obra, chega a ser desesperador.

            Instantes após a divulgação da notícia pelas redes sociais e sua confirmação por meio da nota oficial sucinta emitida pelo Grupo RB Health, começaram as especulações a respeito dos motivos do encerramento das atividades da indústria em São Roque e a saraivada de acusações aos Poderes Executivo e Legislativo locais, responsabilizando-os por não haverem impedido a decisão de se fechar a fábrica, qualificando prefeito, vice-prefeito e vereadores como omissos, indiferentes e incompetentes na manutenção e na instalação de indústrias na cidade.

           Os motivos para o Grupo RB Health fechar as portas de sua unidade em São Roque são econômicos. Certamente em outra cidade brasileira ou até mesmo em outro país a fábrica dará mais lucro. Multinacionais de grande porte não veem fronteiras no mundo, pois seus olhos são focados nos ganhos que irão auferir, não importa onde tenham de se estabelecer, desde que haja possibilidade real de aumento em seu faturamento.

           No mundo capitalista empresários visam à obtenção de lucros e à vitória sobre a concorrência. Não objetivam o verdadeiro bem-estar de pessoas – sejam seus empregados ou não – ou desenvolvimento de uma cidade ou de um país.

          São palavras duras, mas expressam a realidade despida de qualquer fantasia ou maquiagem.

           É bem verdade também que muitos empreendedores se mostram engajados em ações sociais, humanitárias e de sustentabilidade ambiental. Mas, ainda esses têm seu foco principal na obtenção de lucros.

           No caso específico do encerramento de uma fábrica integrante de grupo multinacional, como se deu nesta semana em São Roque, também não se pode perder de vista que esse tipo de empresariado não costuma nutrir vínculos ou afinidades com a cidade e sua gente, mesmo com seus empregados, de modo que seria ilusão esperar deles consideração para com o local que sediou seu empreendimento.

          Tanto é assim que não se tem notícias de que o grupo procurou a Prefeitura e o sindicato da categoria ou tentou formar uma comissão de empregados em busca de  alternativas que possibilitassem a manutenção de suas atividades.

           O Grupo RB Health apenas comunicou que levantaria acampamento, quando não lhe interessou mais ficar por aqui.

           E, ainda, é provável que o grupo considere que a cidade de São Roque lhe deve consideração e gratidão, não o contrário.

 

Outras revoadas

A Peterco, sediada no prédio hoje ocupado pela Prefeitura de São Roque, no Taboão, deixou a cidade no final dos anos 1980

            Não é essa a primeira grande empregadora a largar São Roque na poeira. Indústrias de grande porte como a Brasital, a Cinzano, a Peterco, a Jurid, a Cambucci e a Carambeí, entre outras, já se retiraram daqui, sempre deixando um alto saldo de desempregados e a certeza de que a cidade precisa trabalhar para angariar novas empresas ou reinventar-se, a ponto de não mais depender do ramo industrial para geração de renda e emprego.

          Um ano atrás, o Supermercado Dia também fechou sua loja em São Roque.

          Tão certo quanto o fato de que empresários se instalam e desinstalam na cidade ao sabor de seus interesses econômicos é o dever do Município de aparelhar-se para manter uma contínua estrutura que facilite e atraia novos investimentos na indústria e no comércio e para permanecer competitivo a ponto de as empresas que já se instalaram em São Roque encontrem vantagens para permanecer aqui.

Em janeiro de 1971, a Peterco, por meio de anúncio no jornal O Democrata, recrutava trabalhadores para a fábrica que seria inaugurada em 18 de fevereiro de 1971, em São Roque

 

Reverter o quadro

            Um esforço conjunto entre os Poderes Executivo e Legislativo, entidades da sociedade civil, como associações da indústria e do comércio, sindicatos, faculdades, escolas e pessoas que de fato se interessam pelo desenvolvimento da cidade pode resultar no desenvolvimento de estratégias que tirem São Roque da posição descendente que tem ocupado nas estatísticas de geração de empregos e atração de empreendimentos.

            Um dos pontos mais preocupantes a emperrar o crescimento da cidade é o embate entre defensores e opositores do turismo.

            Turismo gera renda. Não fosse assim, não seria o carro chefe da economia de inúmeras cidades do Brasil e do mundo.

            Na realidade de São Roque, todavia, o turismo, sozinho, não traz recursos suficientes para manter a população da cidade empregada e as contas do Município pagas. Logo, precisa ser conciliado com outras fontes de geração de renda e emprego, como a busca por novas indústrias e comércios que venham se estabelecer aqui, o que se consegue por meio de mecanismos legais que vão desde as adequações cabíveis na legislação municipal até a cessão temporária de espaços para instalação de empreendimentos e incentivos fiscais.

Expansão do turismo

            Para alavancar de verdade o turismo, os são-roquenses precisam assimilar a ideia de que fazem parte da cadeia de lucros que esse ramo de atividade proporciona. Enquanto a população continuar a ver o Roteiro do Vinho crescendo e concentrando as riquezas e os louros do título de Estância Turística ao passo que o Centro da cidade perece no seu aspecto de abandono e sem quaisquer atrativos, será difícil fazer com que os moradores de São Roque se sintam parte dessa engrenagem turística.

            Os são-roquenses assimilarão a ideia de que o turismo é benéfico à cidade quando também conseguirem ganhar dinheiro com o turismo, o que até hoje tem sido privilégio de poucos.

            O trabalho da Prefeitura, enquanto gestora de uma Estância Turística, é fundamental nesse sentido e um bom começo para tornar a população simpática à ideia da alavancagem do turismo é criar e incentivar novos polos e atividades em pontos da cidade ainda não explorados turisticamente ou explorados de maneira superficial.

Infraestrutura e capacitação

            A cidade também precisa ter cursos gratuitos que habilitem os moradores a pleitear vagas de trabalho que surgem tanto na indústria e no comércio como no setor de turismo. Do contrário, não serão os são-roquenses a ocupar os melhores postos.

           Nesta semana, o prefeito Cláudio Góes declarou haver pleiteado junto ao grupo JHSF que as contratações dos futuros empregados do aeroporto a ser inaugurado na região de Dona Catarina seja feita pelo Posto de Atendimento ao Trabalhador – PAT de São Roque.

          Até que ponto haverá em São Roque mão de obra qualificada para atender essa demanda?

          Outro item importante para atrair empresas à cidade é melhorar a infraestrutura necessária aos estabelecimentos. Em recente reunião da Associação das Indústrias de São Roque e Mairinque – Aisam, um empresário afirmou enfrentar dificuldades para instalar sua indústria na Av. Bernardino de Lucca devido a problemas com a rede de água no local.

          A precariedade e o porte das pontes sobre o rio Guaçu têm causado transtornos a uma fábrica localizada no bairro, pois caminhões de carga e descarga têm de ser conduzidos por caminhos alternativos para chegar até a indústria, o que representa perda de tempo e muitas vezes danos aos veículos expostos a trajetos acidentados e de terra.

          Não há dúvida de que o poder público, assim como a postura restritiva ou omissa de vereadores ao longo do tempo, tem parcela de responsabilidade pela evasão das indústrias e do comércio e pelo fato desses segmentos escolherem outros lugares e não São Roque para se estabelecerem.

           Poder público, porém, não pode ser interpretado como o atual prefeito e  vereadores deste mandato. O problema vem de longe sem solução e cada vez mais se agrava, o que indica ser necessária a tomada de medidas emergenciais para saná-lo.

            Não se pode mais protelar. Ou São Roque reformula suas prioridades e estabelece um plano prático de incentivo à instalação de indústrias e comércios ou o Município em pouco tempo será apenas o tão temido dormitório, com sua população trabalhando em outras cidades e apenas pernoitando aqui, o que afastará ainda mais os jovens da cidade, expulsando-os para lugares onde há condições promissoras de estudo e emprego.

O Roteiro do Vinho, destino de milhares de turistas que visitam São Roque a cada final de semana, pode dividir a atenção do público com outras atrações espalhadas pela cidade

            E o turismo, se tudo continuar como está, permanecerá apenas no entorno do Roteiro do Vinho, quiçá na Estrada da Serrinha, onde está o parque do Sky, causando boa impressão a visitantes e desagradando os são-roquenses que ainda não se sentem de fato integrados à plataforma de geração de renda e emprego que esse setor tem para oferecer.

            A pior notícia do ano merece ser vista como o alarme que soa para despertar São Roque da inércia que até hoje a dominou e fazer da cidade um lugar que sabe congregar e harmonizar indústria, comércio e turismo para garantir empregos e rendas para o Município e sua gente.

            A união da cidade em torno desse propósito talvez seja o reinventar-se que São Roque há muito tempo precisa e espera.

* Simone Judica é advogada, jornalista e colunista do site www.vanderluiz.com.br (simonejudica@gmail.com.br)

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Simone Judica

Advogada e jornalista.

2 thoughts on “A PIOR NOTÍCIA DO ANO

  • Alex Poliver

    A cidade de São Roque sempre esteve sob o comando de um pequeno grupo de famílias que utilizou de diversos recursos, inclusive alguns questionáveis, para que seus interesses económicos fossem atingidos.
    Eu também tive uma pequena empresa na cidade de São Roque que tive que fechar devido à burocracia e outros fatores que tornam tão difícil empreender em São Roque.
    Claro que não fui notícia pois sei que não tinha relevância para justificar uma matéria de jornal, porém eu e mais um grande número de irrelevantes foram desistindo de seus negócios e investimentos na cidade e agora a cidade está colhendo seus frutos. Uma pena. Sou nascido e criado em São Roque mas como muitos fui embora da cidade pois ela não tinha condições de proporcionar oportunidades necessárias para meu trabalho e desenvolvimento pessoal.

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    • Stage Three

      Alex, você foi embora pois é um “homem” arrogante, ingrato e BURRO.
      Você humilha quem você julga inferior (e fecha todas as portas atrás de você), depende de qualquer um que não conheça sua índole e confunde amizade com devoção. Ninguém te admira. Você mente. Doentiamente.
      Não culpe o universo (São Roque, famílias tradicionais, burocracia…) pelo seu fracasso.
      Tem um monte de gente que empreende e prospera nesta cidade, inclusive no seu ramo. O problema é você.

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