TEMA LIVRE

Câncer de mama: Fatores de riscos e estratégias de prevenção. Texto do dr. Sandro Ceratti e da professora dra. Marina Salvetti

 

O câncer de mama é tipo de câncer mais frequente entre as mulheres no Brasil, e no mundo. Considerando os dois sexos, o câncer de mama é o segundo tipo de câncer que mais provoca mortes, atrás apenas do câncer de pulmão. Se considerarmos apenas as mulheres, o câncer de mama é o mais frequente e o que mais provoca mortes (INCA 2018, Global Cancer 2018).

O rastreamento populacional através da Mamografia, realizada a partir dos 40 anos, preferencialmente anual, mostrou ser o método mais eficaz para detecção precoce do câncer de mama e para a redução da mortalidade.

Os fatores hereditários e genéticos explicam apenas 5% a 10% dos casos de câncer de mama, os demais casos estão relacionados a fatores hormonais, reprodutivos e ao estilo de vida (Global Cancer 2018).

Entre os principais fatores de risco para o câncer de mama estão: fatores hormonais (menarca precoce e menopausa tardia), fatores reprodutivos (ausência de filhos, maternidade tardia, poucos filhos), uso de contraceptivos orais/reposição hormonal, nutrição (consumo de álcool) e fatores antropométricos(excesso de peso, gordura abdominal).

Por outro lado, a prática regular de atividade física e a amamentação são fatores de proteção contra o câncer de mama (Global Cancer 2018).

Estudo que avaliou o impacto da atividade física na prevenção do câncer de mama e cólon mostrou que 12% dos casos de câncer de mama pós-menopausa poderiam ser evitados por meio da prática regular de atividade física, com intensidade moderada a intensa (150 minutos/semana ou mais) (Rezende et al., 2018).

Vale lembrar que atividades mais vigorosas ou intensas oferecem maior proteção para o câncer de mama e cólon (Rezende et al., 2018a).

Revisão sistemática da literatura que analisou 80 estudos clínicos mostrou que a prática de atividade física vigorosa reduziu de 20% a 21% o risco de câncer de mama em mulheres pré e pós menopausa, respectivamente (Neilson et al., 2016).

No Brasil, 47% da população não realiza atividade física suficiente, média muito elevada, visto que a média mundial de sedentarismo é de 27%, e a meta da Organização Mundial da Saúde é de que apenas 10% da população mundial estejam nessa situação.

A dieta também tem mostrado importante relação com o desenvolvimento de câncer de mama. Estudo que acompanhou 45 mil mulheres ao longo de 22 anos concluiu que uma dieta pró-inflamatória (rica em doces, refrigerantes, grãos refinados, carne vermelha, carne vermelha e processada e margarina, com pouca quantidade de vegetais e café) na adolescência e fase de adulta-jovem aumenta a incidência de câncer de mama (Harris et al, 2017).

Por outro lado, há indícios de que para a prevenção do câncer de mama, mais importante do que a dieta em si é a combinação entre uma dieta saudável e a prática de atividade física (30 a 45 minutos de 3 a 5 vezes por semana) para a manutenção do peso ideal (Euhus, Diaz, 2015).

Pesquisa que investigou a relação entre incidência de vários tipos de câncer e o Índice de Massa Corporal (IMC) estimou que o excesso de peso (IMC elevado) será responsável por 4,6% de todos os casos de câncer. No Brasil, em 2025, com impacto maior entre as mulheres, nas quais 6.2% dos casos estarão relacionados ao excesso de peso (Rezende et al., 2018b).

Pesquisadores norte-americanos analisaram a aplicação dos conhecimentos científicos disponíveis na prevenção do câncer e destacaram que mais da metade dos casos de câncer poderiam ser evitados com os conhecimentos de que já dispomos.

O cigarro, o sedentarismo e a obesidade são causas modificáveis de câncer. Além disso,  há vacinas disponíveis (Papiloma Vírus Humano, Hepatite B), moduladores hormonais e a participação em programas de rastreamento de câncer (exames), que podem reduzir ainda mais o risco de alguns tipos de câncer.

Os efeitos destas estratégias de prevenção na população geral são significativos e devem ser incentivados pelos profissionais de saúde e gestores públicos (Emmons, Colditz, 2017).

 

Dr. Sandro Ceratti

Professora Dra. Marina Salvetti

 

Referências:

 INCA – Instituto Nacional de Cancer Jose Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevencãoe Vigilância. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de CâncerJose Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. – Rio de Janeiro: INCA,

  1. Disponivel em:http://www.inca.gov.br/estimativa/2018/estimativa.pdf

World Health Organization. Cancer control: early detection. WHO guide for effective programmes. http://www.who.int/cancer/publications/cancer_control_detection/en/

Emmons, K. M., & Colditz, G. A. (2017). Realizing the potential of cancer prevention – the role of implementation science. The New England Journal of Medicine, 376(10), 986.

Rezende LFM, Garcia LMT, Mielke GI, Lee DH, Wu K, Giovannucci N, Eluf-Neto J. Preventable fractions for colon and breast cancer by increasing physical activity in Brazil: perspectives from plausible counterfactual Scenarios. Cancer Epidemiology 56 (2018):38-45.

Neilson, H. K., Farris, M. S., Stone, C. R., Vaska, M. M., Brenner, D. R., &Friedenreich, C. M. (2017). Moderate-vigorous recreational physical activity and breast cancer risk, stratified by menopause status: a systematic review and meta-analysis. Menopause, 24(3), 322-344.

Harris, H. R., Willett, W. C., Vaidya, R. L., &Michels, K. B. (2017). An adolescent and early adulthood dietary pattern associated with inflammation and the incidence of breast cancer. Cancer research, 77(5), 1179-1187.

Euhus, D. M., & Diaz, J. (2015). Breast cancer prevention. The breast journal21(1), 76-81.

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *