APRENDI NA RUA

Vitória Gabrielly e rua Renatinho: triste semelhança

 

A morte da menina Vitória Gabrielly, de 12 anos, ocupou grande parte do noticiário nos últimos dias mesmo em período de atenções voltadas para a Copa do Mundo da Rússia.

A Polícia Civil concluiu o inquérito no dia 6 de julho e o caso está no Ministério Público de São Roque.

A investigação aponta a participação de três pessoas no assassinato, o servente de pedreiro Júlio César Lima Ergesse e o casal Bruno Marcel de Oliveira e Mayara Borges de Abrantes.

Resta aguardar a decisão da Justiça ou algum fato novo.

Por conta das redes sociais e das emissoras de televisão, a morte de Vitória Gabrielly ganhou repercussão nacional.

A morte da menina faz lembrar de outro crime terrível no início dos anos 80 que também abalou a região. O assassinato do menino Renatinho.

Renatinho (1981)  e Vitória Gabrielly (2018): triste semelhança de crianças assassinadas

Diante da semelhança dos casos e a repercussão de ambos – o assassinato de crianças – busquei algumas informações.

RUA RENATINHO

No Jardim Ester, atrás da escola Horácio Manley Lane e próxima à antiga estação de ferroviária, tem a rua Renatinho no encontro das ruas João Theodoro, São Joaquim e Avenida João Pessoa e termino da rua Silvio Edgar Rosa.

Com certeza poucos sabem porque a rua presta essa homenagem.

Para complicar ainda mais a identificação, as placas nos extremos da rua de 200 metros de comprimento e 12 de largura, não têm o nome completo tornando impossível buscar a origem da família.

Renatinho é Renato dos Santos Lemos que nasceu em 19 de junho 1977. Era um menino de apenas três anos que morava no Jardim Ester que foi assassinado por uma mulher em 23 de janeiro de 1981.

Hoje, além da internet, temos a TV TEM de Sorocaba (afiliada da Rede Globo), TV Sorocaba (SBT) e os programas policiais da Bandeirantes e Record que falam a toda hora ao vivo com os links montados na porta das delegacias de Araçariguama, São Roque e Mairinque.

Porém, em 1981, as tevês tinham imensas dificuldades para transmissões ao vivo. A repercussão de casos policiais era principalmente nos jornais e rádios.

A morte de Renatinho comoveu os são-roquenses quando foi narrada pelo radialista Gil Gomes.

Um caso contato da forma que somente o maior repórter policial do rádio brasileiro sabe fazer com todos os detalhes, com a voz grave e marcante e tendo ao fundo uma trilha sonora de fazer o coração sair pela boca tamanho o suspense que causava. A trilha do filme Tubarão (1975) era uma das mais usadas

O alcance do programa Gil Gomes, então na Rádio Record (AM 1.000 KHz), pode ser comparado à internet de hoje e aos programas de televisão de maior audiência.

E tudo isso com a apresentação do caso em apenas um programa com informações e detalhes impressionantes em uma narrativa de cerca de uma hora. Era o tempo que normalmente destinado ao caso principal.

O programa começava às 8 horas surfando na grande audiência construída por Zé Bettio e seguia até às 9h45 quando entrava no ar o programa Silvio Santos, com as fofocas de Nelson Rubens e o horóscopo com Zora Yonara.

A Record tinha uma audiência espetacular em todos os horários porque na sequência vinham Barros de Alencar, Eli Corrêa, Dárcio Campos, Altieres Barbiero, volta o Zé Bettio, Zé Russo (Linha Sertaneja Classe A), Jorge Paulo (Chapéu de Coro) e Oswaldo Bettio.

Era possível andar pelas ruas e perceber que em várias casas e estabelecimentos comerciais estavam sintonizados diariamente no Programa Gil Gomes. Imagina a audiência então no dia em que apresentou um caso ocorrido em São Roque.

MORTE DE RENATINHO DEU ORIGEM À SOCIEDADE AMIGOS DE BAIRRO

Depois de muito tempo consegui localizar dois exemplares do Jornal Estação de Notícias órgão oficial da SABJE (Sociedade de Amigos do Bairro Jardim Ester) iniciativa do presidente Émmerson José Ferreira Pinto (Chicho).

O jornal era composto (linotipo) e impresso na Gráfica Getex de propriedade de Guilherme Teixeira, na Avenida Tiradentes, 441. Foi uma das minhas primeiras experiências no jornal.

A edição número 2, de outubro de 1986, destaca os quatros anos de atividades da SABJE.

A página 3, traz a manchete em caixa alta (letra maiúscula): 4 ANOS VITORIOSOS

Cita que a Sociedade de Amigos do Bairro Jardim Ester foi fundada em 19 de outubro de 1982, sendo a primeira entidade de bairro de São Roque. Abaixo reproduzimos.

COMO COMEÇOU

Um triste fato marca o início da mobilização popular que resultou na fundação da SABJE. Corria o ano de 1981, quando o menor Renato dos Santos Lemos, o Renatinho, foi tragicamente morto por uma psicopata.

Iniciaram-se assim diversas reuniões periódicas que decidiram pela formação de uma Comissão Provisória cujo trabalho inicial era o de alertar o estado de abandono que se encontrava o Jardim Ester.

A fundação da Sociedade amadureceu pela necessidade de tornar legítimas e apoiadas em Lei, todas as reivindicações dos Moradores”.

 

A rua Renatinho aparece entre as conquistas e não apenas pela denominação em homenagem ao menino assassinado.

 

“A RUA RENATINHO ou Rua Renato dos Santos Lemos é depois da Pré-Escola a mais importante conquista da SABJE.

Como ir ao centro da Cidade e não correr o risco de ser atropelado no acostamento da Rodovia Raposo Tavares?

Uma viela foi a ideia inicial, mas uma rua foi a solução. Como abrir uma rua sobre uma propriedade da FEPASA?

A desapropriação é legalmente impossível restando uma única alternativa: a cessão amigável da área.

Foram incontáveis as audiências da SABJE com a FEPASA em Sorocaba e São Paulo, quando finalmente o presidente da Sociedade foi recebido pelo presidente da FEPASA, Dr. Chafic Jocob, que após conhecer o trabalho da Entidade, reconheceu a importância da abertura da rua, autorizando a cessão da área à Prefeitura.

A Rua já estava no papel. Restavam: a retirada dos trilhos, a terraplanagem e a desapropriação de um lote particular.

Os trilhos foram retirados em mutirões; a terraplanagem e a desapropriação do lote foram feitas pela atual Administração Municipal [prefeito Mário Luiz Campos de Oliveira].

Hoje, a Rua Renatinho é tão vital para o Jardim Ester como a Rede de Água.

Apesar do pessimismo dos derrotados e derrotistas, a Rua Renatinho, “o sonho impossível”, é uma realidade a provocar, nos que nela acreditaram e nela trabalharam, muito orgulho; e nos que, pelo contrário, nada fizeram pelo seu surgimento, uma prova física de que ONDE HÁ UNIÃO, HÁ FORÇA!”

 

RUA FOI OFICIALIZADA SOMENTE EM 2007

Apesar de existir desde os anos 80, a rua Renatinho foi oficializada somente em 2007, por conta da aprovação do Projeto de Lei 72/2007 do vereador Mauro Antonio de Góes.

Sancionado pelo prefeito Efaneu Nolasco Godinho tornando-se a Lei Ordinária nº 3103, de 18 de outubro de 2007,

 

LEI ORDINÁRIA Nº 3103, DE 18 DE OUTUBRO DE 2007

 

Dá denominação de “Rua Renatinho” à via pública localizada no Jardim Ester.

Prefeito Municipal da Estância Turística de São Roque,

Faço saber que a Câmara Municipal da Estância Turística de São Roque decreta e eu promulgo a seguinte Lei:

Art. 1º Fica denominada “Rua Renatinho” a via pública com início na confluência das Ruas João Theodoro, São Joaquim e Avenida João Pessoa, e término na Rua Silvio Edgar Rosa, contando com 200 m (duzentos metros) de comprimento por 12 m (doze metros) de largura.

Art. 2º Faz parte da presente lei cópia da planta da via pública denominada.

Art. 3º As despesas decorrentes com a execução desta Lei correrão por conta de dotação própria do orçamento vigente.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Prefeitura da Estância Turística de S. Roque, 18/10/07.

Efaneu Nolasco Godinho – Prefeito

Publicada aos 18 de outubro da 2007, no Gabinete do Prefeito.

Aprovado na 33° sessão ordinária de 15/10/2007.

Rua Renatinho entre o Horácio Manley Lane e a antiga estação

 

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS AO PROJETO DE LEI Nº 00072/2007-L, de 08 de outubro de 2007, DE AUTORIA DO VEREADOR MAURO ANTONIO DE GÓES.

BIOGRAFIA DE RENATO DOS SANTOS LEMOS – “RENATINHO”

Aos 23 dias do mês de janeiro de 1981, um bárbaro crime causou comoção e revolta à população são-roquense. Nessa data o pequeno Renato dos Santos Lemos, carinhosamente conhecido por “Renatinho”, foi brutalmente assassinado nas proximidades da Escola Horácio Manley Lane.

O fato consternou toda a população são-roquense, especialmente as pessoas de convívio próximo. Em homenagem àquela criança que todos amavam, as pessoas daquela Comunidade passaram a chamar a via pública próxima aos acontecimentos dos fatos de “Rua Renatinho”.

No entanto, tendo passado 26 anos do ocorrido, a via pública ainda não possui denominação oficial. Sendo assim, nada mais justo do que transformarmos em Lei a homenagem prestada pela população ao menino “Renatinho”, que, apesar de não estar mais entre nós, ainda vive como terna lembrança no imaginário das pessoas.

Renato dos Santos Lemos, o “Renatinho”, era filho de Samuel Lemos e Aparecida dos Santos Lemos, e nasceu em 19 de junho de 1977.

Isso Posto, MAURO ANTONIO DE GÓES, por intermédio do Protocolo nº 05134/2007, de 08 de outubro de 2007, apresenta ao Egrégio Plenário o seguinte Projeto de Lei:

PROTOCOLO Nº 05134/2007

 

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

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