SIMONE JUDICA - SÃO-ROQUICES

HENRIQUE LUIZ ARNÓBIO

 PLANEJAMENTO E COMPETÊNCIA: CAMINHOS PARA O PROGRESSO

O advogado e ex-prefeito Henrique Luiz Arnóbio, aos 87 anos de idade, personagem da estreia da coluna São-roquices (foto: Alexandre Vitor Andrade)

“A cidade é o resultado do trabalho de todas as gerações.” 

Por: Simone Judica*

            Visitar a história de São Roque em busca de personalidades que marcaram seu tempo com ideias e ações que transformaram a cidade de maneira positiva, real e indelével é ter um encontro com Henrique Luiz Arnóbio.

            Sua biografia conjuga atuações profissionais, sociais e políticas pautadas na ética, no respeito aos adversários e na excelência do trabalho, de modo a merecidamente imprimir ao nome Henrique Luiz Arnóbio uma aura imorredoura de consideração e admiração.

            Assumiu a cadeira de Chefe do Executivo são-roquense sob grande expectativa. “Apresentamos os melhores augúrios ao Dr. Henrique Luiz Arnóbio para que faça de São Roque uma cidade modernizada e dinâmica, procurando, no setor da produtividade, mais unidades de industrialização e mais fatores de elevação dos padrões econômicos da nossa comuna. Seu espírito arejado, sua juventude idealista, honesta e sincera rumarão por certo a um destino emancipador e grandioso”, dizia-lhe o prefeito Heitor Boccato, ao transmitir-lhe o cargo, em 1º de fevereiro de 1969.

            Seus muitos feitos, espraiados pela cidade inteira e também por Araçariguama, Distrito de São Roque durante a gestão Arnóbio, comprovam o grande homem público que foi, hábil em governar com os olhos, a um só tempo, postos no passado, para honrar e conservar a essência de sua terra e sua gente, e no futuro, de modo a colocar São Roque no rumo do progresso.

 

            “Tenho um PLANO DE AÇÃO. É a decisão e o compromisso de lutar para atingir determinadas METAS. Não se pode descuidar do futuro, ante o desafio que é fazer a cidade crescer ordenadamente, por todos os meios de progresso, sem esquecer a ‘cidade espiritual’, pois ‘cada cidade tem uma alma’. Com a ajuda de Deus, a obra poderá ser boa. A todos o meu respeito. Até a vitória final.”

 

Propaganda política da campanha de Henrique Arnóbio a prefeito de São Roque, em novembro de 1968, com o apelo final aos eleitores.

         Com essas palavras, em novembro de 1968, às vésperas das eleições municipais, Henrique Luiz Arnóbio, com apenas 36 anos de idade, encerrava a campanha política em que foi eleito prefeito de São Roque, com 42,33% dos votos, para o seu profícuo mandato de quatro anos .

            Visitei-o em sua residência e, em entrevista exclusiva, Dr. Henrique Luiz Arnóbio, com seus 87 anos de idade e a conservar a eloquência serena e a elegância do brilhante orador que sempre foi, relembrou sua trajetória como são-roquense, advogado e político.

           Dias depois, acompanhei-o ao fórum, para uma sessão de fotos. O local foi escolhido por ser duplamente significativo para Henrique Luiz Arnóbio, pois o edifício do Poder Judiciário da Comarca de São Roque foi construído graças a seu empenho pessoal, durante sua gestão como prefeito, e, também, por haver sido o palco maior do sucesso de suas grandes atuações como advogado.

Arnóbio retorna ao fórum de São Roque: o Poder Judiciário ganhou nova sede na Comarca em sua administração como prefeito, em 1972 (foto: Alexandre Vitor Andrade)

 A família Arnóbio

“Somente quem ama a terra em que vive é capaz de servir aos interesses nacionais.” 

            A família Arnóbio está presente em São Roque desde 1834, quando o professor José Daniel Arnóbio, aprovado em concurso público, aqui veio se estabelecer ao  assumir a cadeira de docente para meninos da primeira escola primária do então pequenino povoado de São Roque, fundada em 1831.

           Casado com Porfíria Pinto Arnóbio, teve, entre outros filhos, Antônio Joaquim Arnóbio, que seguiu a carreira do pai no magistério, lecionando em São Roque e aqui constituindo sua família, ao unir-se em matrimônio com Adélia dos Santos Arnóbio.

          O ensino público era apenas um dos cenários em que esses dois professores se destacaram.  Registros históricos sobre a cidade de São Roque descrevem ambos como figuras interessantes e importantes de seu tempo, o que por certo os fará personagens de futuras crônicas da coluna São-roquices.

          O único filho do professor Antonio e Dona Adélia recebeu o nome de Roque, identificando-o com a cidade que já era, em definitivo, o lar da família Arnóbio. Roque Arnóbio formou-se pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1919 e logo ingressou no quadro de delegados de polícia do Estado de São Paulo.

          Ao contrário de seus antepassados, não fez carreira em São Roque, mas, sim, em diversas cidades do interior paulista, até fixar-se em Sorocaba, onde permaneceu por quinze anos. Promovido para a capital, após alguns anos se aposentou em São Paulo, como Delegado Regional.

         Roque Arnóbio e sua esposa, Viola Luíza Costa Arnóbio, carinhosamente conhecida como Dona Violeta, são os pais de Henrique Luiz Arnóbio, nascido em São Roque, em 21 de junho de 1932.

 

A vida escolar

“Minha vida escolar, boa parte dela feita nas escolas públicas, autoriza-me a referendar o ensino público como agente transformador dos indivíduos e da sociedade. Meu plano é expandir, como nunca se fez até hoje, as escolas no Município.” 

          O menino Henrique cursou os estudos primários no Grupo Escolar “Dr. Bernardino de Campos”, em São Roque, e desde a infância já demonstrava talento e inteligência que o distinguiam. Prova disso é que, ao concluir o quarto ano escolar, foi agraciado com o prêmio “Rotary Club”.

          A honraria, dedicada aos primeiros alunos das classes masculina e feminina, teve por destinatárias duas crianças que poucos anos mais tarde se tornariam grandes expoentes na história da cidade, Henrique Luiz Arnóbio e Rosa Grená Alembick, a são-roquense mundialmente conhecida como Rosa Kliass, arquiteta e paisagista.

         Na década de 1940, São Roque não possuía um ginásio e era comum os jovens, cujas famílias tinham condições financeiras mais prósperas, serem encaminhados à capital para a continuação dos estudos, após concluírem o curso primário.

         “Meu pai me matriculou no Colégio Arquidiocesano dos irmãos Maristas, na Rua Domingos de Morais, em São Paulo. Cursei o ginasial no sistema de internato. O nível de ensino era excelente e recebi ótima formação. Concluído o curso, fiz os estudos clássicos, hoje correspondentes ao chamado ensino médio, em Sorocaba. Depois retornei a São Paulo para o cursinho preparatório para admissão à faculdade de Direito do Largo de São Francisco”, relembra Henrique Arnóbio.

Adolescente, Henrique Arnóbio foi aluno do internato do Colégio Arquidiocesano dos irmãos Maristas, em São Paulo.

 

A vocação e a tradição jurídicas

“A escolha do Direito é uma tendência de família há quatro gerações.” 

            Desde pequeno, Henrique via-se a trilhar a carreira jurídica.

             “A escolha do Direito foi uma tendência da família. Meu pai era delegado de polícia, meu avô Antônio Joaquim Arnóbio foi professor e também desempenhava a função de advogado, naquele tempo em que não precisava do diploma para exercer a profissão. Por ter ele grande cultura, muitas pessoas pediam-lhe que defendesse suas causas. Além disso, ele também atuou como advogado da Prefeitura Municipal de São Roque”, relembra Dr. Henrique.

             “O direito estava sempre presente na família e era natural que eu trilhasse  esses passos, como aconteceu depois com meu filho Antonio Carlos, que foi promotor de justiça, e agora com minha neta Luíza, que recentemente concluiu a faculdade de Direito, já passou no exame da Ordem dos Advogados do Brasil e está se preparando para o concurso do Ministério Público, inspirada na carreira do pai, o que me alegra”, completa Dr. Arnóbio.

             Em 1956, Henrique Luiz casou-se com a jovem são-roquense Irany Luíza Silveira e tiveram apenas um filho, Antonio Carlos Silveira Arnóbio,  falecido em 6 de abril de 2006, aos 47 anos de idade, após meses de luta contra um câncer extremamente agressivo. Seu nome alcançou grande projeção no Ministério Público do Estado de São Paulo, onde atuava como promotor de justiça criminal. 

             Não pude deixar de notar como a lembrança da morte prematura do único filho cobriu o semblante de Dr. Henrique Arnóbio de comovente pesar, que somente se dissipou ao pousar os olhos na neta Luíza, que cerca os avós de carinho, doçura e gentilezas.

Antônio Carlos Arnóbio e a filha, Luíza, com apenas nove anos, em 2005.

             Dias após o falecimento de Antônio Carlos Silveira Arnóbio, em reunião do Conselho Superior do Ministério Público, constou da ata da sessão ordinária do órgão paulista expressão de pesar pela perda, formulada pelo Procurador de Justiça e Conselheiro José Oswaldo Molineiro:

              “Gostaria de acentuar a minha profunda tristeza pelo falecimento no dia 06 de abril de 2006 do colega Antonio Carlos Silveira Arnóbio e sei que este é o sentimento generalizado de toda a Instituição. Dr. Arnóbio pontificou não só pela correção no desenvolvimento de suas atividades funcionais, mas também pelo seu espírito conciliador, buscando sempre o entendimento nas questões controvertidas, honrando o Ministério Público não só como profissional, mas acima de tudo como ser humano. Aos colegas e familiares que tiveram a graça de com ele conviver de forma cotidiana, transmito a minha solidariedade, na expectativa de que a sua passagem pela nossa Instituição sirva de exemplo a todos nós e principalmente aos jovens que iniciam a sua trajetória institucional”.

            No Fórum Criminal da Barra Funda, onde Antonio Carlos Arnóbio exerceu a função de promotor de justiça criminal nos anos que antecederam seu falecimento, uma placa o homenageia, dando seu nome a uma das principais vias internas das dependências do Ministério Público.

            O promotor Antonio Carlos Arnóbio notabilizou-se por combater a pedofilia e a prostituição infantil.

 

A vida acadêmica:

“Para os moços, a vida acadêmica é uma das mais ricas e importantes descobertas e experiências da juventude.” 

             Aprovado nos rigorosos exames de admissão à tradicional faculdade paulista do Largo de São Francisco, o jovem Henrique concluiu o curso de Direito com louvor, recebendo o grau de bacharel em Ciências Jurídicas em 28 de janeiro de 1956.

O bacharel Henrique Luiz Arnóbio colou grau no salão nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 28 de janeiro de 1956.

 

Henrique Arnóbio é o primeiro formando à direita, ao lado de colegas, em frente do monumento que, no Largo de São Francisco, homenageia os estudantes mortos na Revolução Constitucionalista de 1932.

             A vida dos acadêmicos das tradicionais Arcadas do Largo de São Francisco nunca foi apenas mergulhada nos livros e com Henrique Arnóbio não foi diferente. Logo ao chegar se filiou ao Centro Acadêmico XI de Agosto, onde se realizavam atividades culturais, políticas e sociais.

A carteira de identificação de aluno filiado ao Centro Acadêmico XI de Agosto, expedida para Henrique Luiz Arnóbio quando ingressou na faculdade.

             “Os alunos tinham uma vida efervescente, participavam de atividades estudantis e sociais e estavam sempre atentos ao cenário político do País, o que contribuía muito para nossa formação. Eu frequentava assiduamente o Centro Acadêmico XI de Agosto e morei na Casa do Estudante da Universidade de São Paulo no tempo da faculdade e tudo isso permitiu que eu tivesse uma vida acadêmica mais intensa,  pois o tempo todo estávamos em meio aos estudantes. Como sempre gostei de esportes, logo me  envolvi nas programações da Associação Atlética Acadêmica XI de Agosto. Fui  presidente da Atlética e integrei os times de vôlei e futebol, sendo o goleiro titular da equipe”.

 

Henrique Arnóbio voa em defesa do time da Atlética XI de Agosto, durante as Olimpíadas das Arcadas.

 

Elenco do time de futebol da Associação Atlética Acadêmica XI de Agosto, em 1955, defendido pelo goleiro Henrique Luiz Arnóbio.

             “Um dos meus melhores amigos, que participava comigo das atividades da Atlética, foi o John Herbert. Ele já era ligado ao teatro e depois acabou deixando a carreira jurídica para seguir a vida artística. Era um bom jogador de polo aquático e a Eva Wilma, àquela época sua noiva, sempre ia assistir às competições. O Herbert dizia “cuida da Eva para mim enquanto eu jogo” e nós ficávamos na arquibancada enquanto ele competia”.

            John Herbert, assim como outros colegas do tempo de faculdade, veio várias vezes a São Roque entre os anos 1950 e 1960, a convite do amigo Henrique Arnóbio, que os recebia em sua casa.

 

O esportista

“Preciso dizer que não me esqueci do Esporte, embora aflito com tantos problemas prementes.” 

            Os esportes faziam parte da vida de Henrique Arnóbio muito antes de sua chegada aos times da Associação Atlética Acadêmica XI de Agosto. Nada, porém, era visto por ele apenas como diversão.

            Preocupado com o fato de São Roque não ter um clube onde os jovens pudessem praticar esportes, Henrique Arnóbio, com apenas treze anos de idade, foi um dos moços que integrou o grupo idealizador do Grêmio União Sanroquense, cuja ata de fundação, lavrada em 28 de agosto de 1945, registra seu nome ao lado da assinatura dos amigos Edgard Rosa, Geraldo Ribeiro Lopes, Hélio Roque Villaça, Hildebrando Tagliassachi, Ivaldo Villaça, Joel Vicente Ribeiro Lopes, José de Abreu, Mário Luiz Campos de Oliveira, Paulo Villaça, Roque Aparecida Ribeiro Lopes e Waldemar Gonçalves Biar.

            “Sempre gostei muito de esportes.  Jogava vôlei e futebol desde menino e, com a participação do Grêmio União Sanroquense em diversos torneios, representei São Roque e o nosso clube em vários jogos de voleibol pelo interior do Estado e também aqui. No Colégio Marista também integrei as equipes que disputavam os campeonatos escolares”.

Time de voleibol do Grêmio União Sanroquense. Da esquerda para a direita, em pé Hélio Villaça, Henrique Arnóbio, José de Abreu (Zizi), Mário Luiz, pessoa não identificada e o técnico Pedro Conti; agachados: Jamil Chad, Osório Mário dos Santos (Zorico) e Joel Vicente Lopes.
Henrique Arnóbio e José de Abreu (Zizi), durante viagem de trem a Presidente Prudente, em 1949, quando o Grêmio União Sanroquense competiu nos Jogos Regionais.

           O gosto pelos esportes e a compreensão da sua relevante função social e educativa na formação de crianças e jovens foram transportados para a vida de administrador. O prefeito Arnóbio procurava sempre incluir quadras esportivas nas plantas de construção das escolas públicas e apoiou o trabalho da Comissão de Esportes e dos clubes e times locais, além de haver revitalizado a antiga Quadra Municipal, situada no trecho final da Av. Antonino Dias Bastos, próxima da Avenida Brasil, que hoje não existe mais.

             A Quadra Municipal à época da gestão Arnóbio se encontrava abandonada. Os reclamos de pessoas ligadas aos esportes e de moradores das imediações impulsionaram o prefeito a revitalizar a Quadra Municipal, tida por ele como um espaço que pertencia a toda a comunidade, onde ele mesmo havia treinado voleibol, na juventude.

             Todavia, em relação à manutenção de vários campos de futebol espalhados pela cidade, o prefeito conteve os gastos do dinheiro público, por entender que tais espaços não pertenciam à comunidade como um todo, mas, sim, às agremiações, devendo seus dirigentes obter fundos para as obras necessárias, sem o dispêndio do erário.

             Esse tema, aliás, era motivo de opiniões divididas na cidade desde o princípio da sua atuação na Prefeitura, já que “uma das primeiras medidas do prefeito Arnóbio ao tomar posse, no início do corrente ano,  foi modificar a aplicação de verbas orçamentárias destinadas a setores que não iriam trazer benefícios à coletividade, principalmente, as de manutenção de campo de futebol”, conforme noticiou a edição do jornal Diário de São Paulo, de 17 de agosto de 1969.

             “Apesar de haver modificado a destinação de verbas para obras em campos de futebol particulares, na medida do possível e sem sacrificar outras obras que entendia mais prementes, a Prefeitura atendia às reivindicações dos times da cidade em sua busca de melhorias para os campos de futebol locais”,   explica o ex-prefeito.

            “Em Canguera, quando a Prefeitura adquiriu o terreno ao lado do Grupo Escolar Euclides de Oliveira para a construção do novo edifício em que funcionaria o ginásio, fiz questão de que houvesse espaço suficiente para ser construída uma quadra de basquete, onde os estudantes poderiam fazer educação física e também ter uma área para lazer esportivo. Na reforma da escola do Cambará também foi possível construir uma quadra ao lado do prédio escolar.  Quando reformei o Parque Infantil do Bandeirantes também exigi a presença de uma quadra para os pequenos”.

 

O advogado

“A ideologia política não pode fazer o advogado abrir mão do seu compromisso de  luta pelas liberdades constitucionalmente garantidas.”

“A ideologia política não pode fazer o advogado abrir mão do seu compromisso de  luta pelas liberdades constitucionalmente garantidas.” 

            Dr. Henrique Luiz Arnóbio exerceu a advocacia em São Roque e nas cidades vizinhas por cerca de cinquenta anos, até se aposentar, no começo do século XXI. Durante toda essa jornada, foi referência para advogados, promotores e juízes com quem trabalhou, tanto em razão de sua vasta cultura jurídica quanto pelo seu perfil conciliatório e ético sempre demonstrados na defesa de seus clientes e da classe dos operadores do Direito.

            Ao término da faculdade, porém, os planos profissionais do jovem doutor estavam focados muito longe de sua terra natal.

            Um de seus colegas de faculdade, com quem se formara, filho do então governador do Estado de Goiás, pretendia tê-lo como sócio em uma banca de advocacia que seria inaugurada em Goiânia. Moço e sonhador, entusiasmou-se com a possibilidade de obter sucesso profissional no Centro Oeste e interessou-se pela proposta.

             “Combinamos que eu viria passar uns dias de férias em São Roque com meus pais e depois iria para Goiás. Mas, logo ao chegar aqui o juiz de Direito, Dr. Lavínio Abreu Galvão, soube que um advogado recém-formado havia voltado à cidade e mandou me chamar, pedindo que eu o ajudasse no trabalho fórum, que estava sem promotor de justiça. Naquele tempo os advogados podiam ser nomeados para exercer a função de promotor e ele passou a me nomear promotor “ad hoc”, para determinados casos, até o promotor titular do cargo assumir a vaga na Comarca. Com isso, em pouco tempo fiquei conhecido e foi surgindo a clientela. Eu gostava de viver em São Roque e decidi ficar por aqui”.

Confraternização com funcionários do fórum de São Roque, no final da década de 1950. Em pé, ao centro, Henrique Arnóbio discursa. No canto direito, olhando para frente, Nando Carlassara, comissário de menores.

            O primeiro escritório foi montado na Av. João Pessoa. “Aluguei uma sala do Pedro Costa e ali me instalei para atender meus clientes. No início da advocacia trabalhava em causas cíveis e criminais e defendi vários réus no Tribunal do Júri. Com o passar do tempo, passei a me dedicar somente à área cível”.

             “A atuação dos advogados nos júris requer muita preparação e muita responsabilidade. No início de carreira os advogados se empolgam com o Tribunal do Júri e é uma excelente experiência atuar nesse ramo. Comigo não foi diferente. Defendi muitos réus, vários deles gratuitamente, mediante nomeação dos juízes. Fossem condenados ou absolvidos, tivessem ou não condições para o pagamento dos honorários, sempre os defendi com o mesmo empenho”, relembrou Dr. Henrique enquanto me mostrava recortes de jornais que noticiavam julgamentos em que  atuara.

Recorte do jornal O Democrata de dezembro de 1957 relata uma das vitórias do advogado Henrique Luiz Arnóbio no Tribunal do Júri de São Roque.

             Importa anotar que Dr. Henrique Arnóbio teve atuação até hoje relembrada e reverenciada por haver sido o defensor de vários presos políticos detidos nos tempos que se seguiram ao golpe militar de 1964.

             Em 2014, quando entrevistei o também ex-prefeito Mário Luiz Campos de Oliveira para a coluna São-roquices, ele rememorou esse episódio: “Éramos acusados de participar de movimentos em apoio a Jango. Em São Roque foram 120 indiciados e o promotor processou 19, enviando o caso à Justiça Militar, em São Paulo. Dr. Henrique Arnóbio nos defendeu e mesmo sendo ideologicamente contra nós, atuou muito bem. Fomos todos absolvidos, dois anos depois”.

             Mário Luiz e Henrique Arnóbio estavam em lados opostos da política, durante esse período. O primeiro era filiado ao MDB e o segundo à ARENA. Isso, todavia, não foi empecilho para o advogado sobressair-se ao homem e ao político em busca da justiça e da liberdade.

             Henrique Arnóbio apoiou Mário Luiz na campanha política de 1959, em que, respectivamente, foram eleitos vereador e prefeito de São Roque. O apoio seguiu durante o mandato inteiro, de 1960 a 1963. Entretanto, quando Arnóbio se candidatou a prefeito, quase dez anos depois, Mário Luiz fazia-lhe oposição, junto com o partido ao qual era filiado, o MDB.

            “Mário Luiz, Synésio de Paula Santos e vários outros que eram ligados ao Partido Comunista ou simpatizantes do Jango foram presos em 1964 e alguns familiares e amigos deles, desesperados, me procuraram em busca de orientação e ajuda. Eles estavam presos em Sorocaba. Nesse tempo eu tinha um relacionamento muito bom com um juiz de Sorocaba, que inclusive havia sido meu cliente. Conversei com ele e consegui que determinasse a soltura de todos os presos de São Roque, na fase do inquérito.  Nem todos ficaram por aqui, pois ordens de prisões continuavam sendo emitidas e eles temiam serem vigiados e pegos novamente. Mesmo de longe, mantiveram contato comigo e os defendi na Justiça Militar em São Paulo, que era competente para julgar crimes políticos”, esclarece Dr. Arnóbio.

             Ao indagá-lo sobre a linha de defesa adotada em favor dos chamados “comunistas de São Roque”, esclarece: “aleguei que eram provincianos, não entendiam nada sobre política e comunismo e consegui absolvê-los. Os promotores recorreram perante o Tribunal Militar e ganhei o recurso também. Foram absolvidos por falta de provas de atividades comunistas e subversivas”.

             Sua luta para a criação de uma subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em São Roque é outro capítulo honroso no currículo de Henrique Arnóbio como advogado e líder nato entre seus pares.

             “Nós pertencíamos à subseção de Sorocaba da Ordem dos Advogados do Brasil e ainda éramos poucos advogados, mas não via isso como algo a nos impedir de termos nossa própria subseção, pois era certo que no futuro isso seria importante para a classe dos advogados e também para a cidade de São Roque”.

             Dr. Arnóbio  conta que, com essa ideia em mente, teve a iniciativa de começar um movimento pela criação da subseção de São Roque, com o apoio de um colega de Sorocaba, o advogado Américo de Carvalho. “Ele ajudou muito, pois não somente compreendeu a importância da nossa independência, como mantinha uma ligação muito boa com a diretoria da Seccional de São Paulo, o que nos abriu as portas na capital”.

             Apresentado o pedido à OAB, o Conselho Seccional de São Paulo aprovou a criação da 98ª Subseção, abrangendo os municípios de São Roque, Araçariguama, Mairinque e Alumínio, em 16 de junho de 1982. “Fui eleito o primeiro presidente. Houve um plebiscito entre os advogados daqui e das cidades vizinhas e meu nome foi indicado para ser o primeiro presidente. Tive dois mandatos, no total de oito anos”.

             Embora afastado dos cargos diretivos da 98ª Subseção da OAB, Dr. Arnóbio segue, até hoje, como um nome que inspira respeito e admiração a todos os colegas que tiveram o privilégio de exercer a profissão ao seu lado ou apenas ouvir contar sobre seu trabalho e seu  modo sempre impecável de exercer a profissão e relacionar-se com os demais profissionais das lides jurídicas.

Recostado na tribuna da defesa do salão do Tribunal do Júri do fórum de São Roque, Dr. Henrique Arnóbio, com olhar nostálgico, recorda-se de batalhas jurídicas que ali lutou.(foto: Alexandre Vitor Andrade)

             Durante a visita ao fórum, para fazer as fotos que ilustram essa matéria, o juiz de direito diretor do fórum de São Roque, Diego Ferreira Mendes, que está na Comarca há doze anos, não apenas recebeu Henrique Arnóbio, mas acompanhou-o às dependências do Salão Nobre do Tribunal do Júri, revelando sua consideração para com ele e o reconhecimento da sua importância para a comunidade jurídica em São Roque.

O advogado Henrique Arnóbio, ladeado pelo juiz de direito diretor do fórum de São Roque, Diego Ferreira Mendes, e pela advogada e jornalista Simone Judica, autora da coluna São-roquices. (foto: Alexandre Vitor Andrade)

O Político

“Não desejava ser político. Desejava servir à minha cidade.” 

             A preocupação e o envolvimento de Henrique Arnóbio com os assuntos, questões e atividades da cidade, somados à inteligência, à formação intelectual de excelência e à capacidade de analisar e equacionar problemas de maneira dinâmica, cordata e conciliadora, tornaram o jovem doutor, sempre disposto a ajudar quem a ele recorria,  conselheiro nato de quem buscava soluções para tornar São Roque melhor.

 

O Vereador

            Henrique Arnóbio pretendia ser advogado, não político. Queria, também, ser útil a sua terra e aos seus conterrâneos e almejava honrar o sobrenome de seus antepassados. Seu nome foi indicado, então, para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal. Disputou eleições em 1959 e, aos vinte e sete anos de idade, foi eleito vereador para o mandato de 1960 a 1963, quando São Roque teve como prefeito o engenheiro Mário Luiz Campos de Oliveira. Presidiu o Poder Legislativo de São Roque na legislatura de 1962.

Comício da campanha política de 1959, em São Roque, quando Henrique Arnóbio se candidatou a vereador, na chapa em que Mário Luiz Campos de Oliveira disputava a vaga de prefeito. Em pé, da esquerda para a direita, em primeiro plano, Vasco Barioni, candidato a vice-prefeito, Henrique Arnóbio, Mário Luiz ao microfone e ao seu lado Albertino  Castro Prestes.

            Perguntado sobre sua atuação como vereador, responde de pronto que não pode apontar realizações específicas de sua parte, que sejam dignas de nota nesse período. Frisa, contudo, que sua passagem pela Câmara Municipal teve três pontos de relevo, os quais são o haver aprofundado seus conhecimentos sobre a cidade e seus problemas; a luta para melhorar as condições da Santa Casa de Misericórdia, que mais uma vez atravessava uma fase de dificuldades; e a constatação do caos legislativo reinante no Município de São Roque, que atravancava o progresso e, por isso,  demandava urgentes intervenções e reformas que somente poderiam ser operadas a partir de uma atuação direta do chefe do Executivo.

Henrique Luiz Arnóbio, como presidente da Câmara, acompanha o prefeito Mário Luiz Campos de Oliveira à direita, em audiência com representante do governo estadual.

             A sensibilidade de Arnóbio quanto à importância da Santa Casa para a população e à necessidade de resolução dos problemas da histórica irmandade chamaram a atenção de alguns cidadãos atentos às lutas que a instituição enfrentava.

             “Como tantas vezes tem ocorrido, a Santa Casa entrou em uma de suas crises no final dos anos 1950 e o José Carvalho de Brito, que também foi vereador e se preocupava com os problemas da saúde em São Roque, pediu-me para assumir a provedoria e reformular os estatutos da Irmandade de maneira que a situação pudesse melhorar”.

            Prosseguindo no tema, Henrique Arnóbio esclarece que foi provedor da Santa Casa no biênio 1960-1961. “A Santa Casa sempre foi alvo de consideração pela minha família, pois meu avô, Antônio Arnóbio, foi um dos seus primeiros provedores e administradores, no início do século XX, e quem mais lutou para que fosse construído o hospital em local e condições adequados às normas de saúde pública e ao atendimento dos doentes. A primeira Santa Casa foi construída na gestão dele como provedor. Dando continuidade a essa tradição familiar, assumi a provedoria e com a amizade que tinha com os governadores Carvalho Pinto, Abreu Sodré e Laudo Natel, obtive verba do governo do Estado para construir a parte nova do hospital”.

             A empresa Escritório de Engenharia e Construção Giosué Colombo foi a contratada para realizar essas obras. “Colombo já havia construído o colégio das freiras, em São Roque, o Colégio São José, e foi nesse período que ficamos amigos. Ele ajudou muito nesse empreendimento de ampliação da Santa Casa, pois, mesmo quando não recebíamos verba do governo do Estado para pagar a construção nas datas combinadas, ele não parava o serviço. Quando o dinheiro chegava efetuávamos os pagamentos atrasados. Toda a parte nova foi feita no meu tempo de prefeito. Depois de ser provedor, fiquei como Conselheiro da Irmandade até 1968, ocupando a presidência do Conselho várias vezes, e me retirei para assumir a Prefeitura”.

Presidente da Câmara de São Roque, Henrique Arnóbio discursa em solenidade do Lions Clube de São Roque, ladeado pelo prefeito Mário Luiz à esquerda.

 

A derrota nas primeiras eleições para prefeito

            Um mandato como vereador bastou para Henrique Arnóbio compreender que sua missão em favor do progresso de São Roque somente poderia ser desempenhada se estivesse à frente do Poder Executivo.

            Candidatou-se a prefeito de São Roque em 1963 e foi derrotado nas urnas por Heitor Boccato, o Rino, que governou a cidade entre 1964 e 1968. Finda a apuração, voltou ao seio da sua família e à advocacia, afastando-se da vida política da cidade.

“A solução é Arnóbio”, dizia o slogan da primeira campanha de Henrique Arnóbio a prefeito de São Roque. O palanque dos comícios, que atraiam muita gente, era montado na carroceria de um caminhão.
Destaque do palanque sobre a carroceria de caminhão, num dos comícios da campanha de Henrique Arnóbio para prefeito, em 1963: “A solução é Arnóbio”.

             Um episódio curioso e em várias oportunidades recordado por Henrique Arnóbio marcou sua primeira campanha à Prefeitura de São Roque: “o Rino Boccato e eu disputamos a eleição para prefeito em 1963 e na época “O Democrata” era o único jornal que havia na cidade. Apesar de sermos adversários políticos, o Rino publicava a minha propaganda eleitoral durante toda a campanha, sem qualquer restrição ou objeção”.

              A convivência entre os dois sempre foi respeitosa e harmoniosa: “Quando me elegi prefeito, na eleição seguinte, o Rino Boccato publicou no jornal, durante todo o meu mandato, as notícias políticas da minha atuação na Prefeitura, por iniciativa dele mesmo, sem que eu precisasse pedir e sem nunca cobrar por isso. Ele tinha um espírito democrático muito grande. Eram outros tempos”, relembra saudoso.

             “Perdi a primeira eleição para o Rino e não fiz oposição a ele durante o governo. Ele precisava de tranquilidade para administrar a cidade e eu para cuidar da minha família e dos meus clientes”.

             Embora distante das atividades políticas, Arnóbio permanecia com uma imagem muito forte dentro do seu partido, a ARENA – Aliança Renovadora Nacional. Chegadas as convenções municipais de 1968, seu nome foi o primeiro a despontar como candidato, tendo Dante Teixeira Bastos sido indicado como seu vice.

             A convenção da ARENA também designou outras duas chapas, uma encabeçada  pelo então vice-prefeito, Jarbas de Moraes,  e a outra por Quintino de Lima, que vieram a se eleger prefeitos de São Roque nas campanhas de 1972 e 1976, respectivamente.

 

O prefeito

Propaganda política da campanha vitoriosa de Henrique Arnóbio para a Prefeitura de São Roque, em 1968.
O prefeito eleito, Henrique Arnóbio, recebe o cargo e o abraço do prefeito Rino Boccato, que se despedia.

            Uma vez eleito, em 15 de novembro de 1968, foram várias as frentes de trabalho a organizar e a colocar em execução. A pequenez do caixa deixado pelo seu antecessor não foi motivo para a cidade não progredir.  

            Sua primeira prestação de contas ao eleitorado, cinco meses após o início do mandato, informa que “apesar das dificuldades inerentes ao início de uma administração, não é pequeno o rol de serviços e obras prestados, levando-se em conta ainda que a receita não tem correspondido ao orçamento aprovado no exercício anterior”.

            Esse rol contemplou a notícia sobe reformulações e inovações na organização administrativa da Prefeitura e em todos os setores administrativos e uma lista de dezenas de providências que tencionava cumprir por todo o Município de São Roque, que naquele tempo integrava as cidades de São Roque e Araçariguama.

 

A Reforma legislativa:

“Governar é organizar. Se Deus quiser, poderemos entregar uma organização administrativa para que melhor se faça administração, no futuro.” 

            A formação jurídica foi uma poderosa aliada do prefeito Arnóbio na organização da legislação municipal. “Até então as leis e os decretos municipais vinham sendo feitos conforme as necessidades e situações se apresentavam, sem que houvesse uma sistematização adequada, que permitisse  e facilitasse o desenvolvimento do Município, assim como acontecia em praticamente todas as cidades do interior do Brasil. Por isso tive grande empenho em deixar o ordenamento jurídico municipal em ordem”, fala o advogado, com conhecimento de causa.

            Declarou em sua primeira prestação de contas a seus eleitores, ao completar cinco meses de governo: “Para acertar o passo com o novo Brasil, São Roque cuida de introduzir as modificações impostas pela nova legislação. Compras,  Almoxarifado, Serviço Autônomo de Água e Esgotos, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado são apenas alguns exemplos das exigências atuais.”

            Entre as muitas inovações legislativas da gestão Henrique Arnóbio, quatro podem ser destacadas, pela importância e pela abrangência.

            Em primeiro lugar foi criado o Código de Posturas Municipais, de 07 de outubro de 1970, lei que “contém as medidas de polícia administrativa a cargo do Município, em matéria de higiene, ordem pública e funcionamento dos estabelecimentos comerciais e industriais, estatuindo as necessárias reações entre o poder público local e os municípios”.

             O Código de Posturas, com seus 158 artigos que visavam a colocar muita coisa desordenada em ordem na cidade, deu o que falar naquela São Roque onde não havia muitos rigores em matéria de organização da cidade. Essa lei, embora contenha diversas alterações promovidas ao longo dos anos, segue em vigência.

            Meses após a publicação do Código de Posturas, grande parte da população reclamava da nova ordem e tentava convencer o prefeito a abrandar a lei. Na edição do jornal “O Democrata” de 07 de julho de 1971, Arnóbio dá uma declaração publicada na primeira página do semanário e põe termo ao assunto:

             “O Código não tem sentido apenas repressivo. Tem sentido educativo. Para isso, depende da própria população, que é a beneficiária de medidas como feitura de muros, limpeza de quintais, higiene das habitações e dos estabelecimentos comerciais etc. Daí a razão do apelo a todos, a fim de evitar futuras autuações e multas.”.

             Outra medida legislativa importante de sua autoria foi o Estatuto dos Funcionários Públicos Municipais, que passou a vigorar a partir de 1971, regulamentando as atividades e carreiras dos servidores do Município.

             Também é o mentor da lei de criação o PLADEI – Plano de Desenvolvimento Industrial, promulgada em 29 de novembro de 1972, com o objetivo de ampliar a expansão industrial em São Roque e Araçariguama e assim aumentar a geração de empregos, receita e, por consequência, desenvolvimento do Município, a curto e longo prazos. A lei de criação do COMTUR – Conselho Municipal de Turismo, também foi elaborada em sua gestão e sob sua orientação jurídica.

Almoço com amigos e correligionários, no Bio’s Bar. Ao redor da mesa, a partir da esquerda, Paschoal Rabecchini, Henrique Arnóbio e Hélio Villaça. À cabeceira, Túlio Boschini, e o garçom atrás dele, Remo Moretti. À direita, na ponta, Flávio Tagliassachi, José de Abreu (Zizi), pessoa não identificada e o quarto é Júlio de Lucca. Ao fundo, na penumbra, o ex-prefeito Lívio Tagliassachi.

             Seu trabalho de maior vulto na organização do Município, porém, que até hoje traz o nome de Henrique Arnóbio à baila, em tom de admiração e respeito, foi sua dedicação para que a cidade tivesse um Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado.

             O prefeito Arnóbio lutou para a elaboração do Plano Diretor desde os primeiros dias de seu mandato, mas somente próximo ao término de sua gestão, em 18 de dezembro de 1972, viu a lei ser finalmente aprovada pelo Legislativo. Essa lei teve vigência até o final de 2006, quando foi revogada na gestão do então Prefeito Efaneu Nolasco Godinho.

              “O Plano Diretor era uma exigência constitucional  que precisava ser cumprida abordando aspectos físicos, econômicos, sociais, territoriais e institucionais. Em São Roque não havia pessoas especializadas na realização desse trabalho da maneira ampla e profissional necessária a organizar a cidade para o futuro e para o progresso. Foi contratada a empresa SOCIPLAN, que já vinha realizando os levantamentos para confecção de planos diretores em outros Municípios. Durante cerca de um ano a empresa  trabalhou em pesquisas de campo e na elaboração do documento, que então passou por minha avaliação pessoal e foi muito discutido pela Câmara e por representantes da sociedade, até que a versão final foi aprovada, já no final da minha gestão, de modo que os meus sucessores encontraram a organização necessária para  administrar e desenvolver a cidade no futuro”.

 

As obras:

“Não governo somente para hoje. O que importa é o futuro.” 

             O prefeito Arnóbio, todavia, estava muito além do homem de gabinete, que se debruçava sobre as leis e os documentos. Era arrojado, dinâmico e empreendedor.

             Era, também, um madrugador, conforme confessou  sua esposa, D. Irany, que muito atenta acompanhava esta entrevista e, num gentil aparte, contou que, durante o tempo em que foi prefeito, seu marido costumava sair todos os dias às cinco da manhã para percorrer a cidade com seu próprio fusca e verificar se havia algo por fazer nas ruas e obras, antes de ir para a Prefeitura.

            Henrique Arnóbio recorda-se, então, de não se utilizar de veículo oficial e motorista para a rotina diária de prefeito. “Eu tinha um Volks que eu mesmo dirigia. Visitava as obras em andamento e dava uma olhada na cidade. Para o dia render, tinha que começar o trabalho bem cedo”.

             Aproveitei para perguntar ao casal como era a vida de primeira dama naqueles tempos. D. Irany conta que havia muito trabalho para a primeira dama também, porém era algo feito de maneira mais reservada, longe dos holofotes, como as atividades assistenciais e educativas realizadas nos Clubes de Mães, que ensinavam meninas e mulheres mais carentes a fazer tarefas domésticas e trabalhos de artesanato, para que melhorassem a renda familiar, além de outras atividades na área de assistência social.

             Durante a gestão Arnóbio, os Clubes de Mães prestaram grande serviço de orientação e complementação de renda nos bairros Cambará, Canguera, Carmo, Marmeleiro, Maylasky, Santa Cruz, Santa Quitéria, São João Novo, Taboão e Vila Amaral, onde estavam estabelecidas as unidades desses centros de trabalho.

            Dr. Henrique reconhece o apoio e a dedicação da esposa. “Irany me ajudava muito na parte de organização de festividades, prestigiava eventos ao meu lado, trabalhava nos Clubes de Mães e acompanhava as entidades assistenciais, auxiliando-as no que fosse possível. Tê-la ao meu lado foi muito importante nesse período e sempre”.

O prefeito Henrique Arnóbio e a primeira dama, D. Irany, recepcionam o governador Carvalho Pinto na Prefeitura de São Roque.

             Na Prefeitura, sentia-se bem assessorado também. “O engenheiro Abel de Almeida me ajudou bastante durante o mandato. Ele se dedicava intensamente para a execução das obras. Meu procurador jurídico era o Hélio Villaça e o Júlio de Lucca foi chefe de gabinete. O vice-prefeito Dante Bastos ajudava em tarefas mais voltadas à representação do Município em algumas solenidades, eventualmente participava de reuniões, mas não tinha um papel decisivo na condução da cidade. Eu atribuía algumas funções a ele, mas o dever de conduzir o Executivo estava inteiramente sob minha responsabilidade”.

            O prefeito Arnóbio certamente foi um homem público completo, pois dedicou-se à preparação de sólidos alicerces que sanassem os problemas existentes nas bases com o mesmo afinco com que idealizou e tornou concretas inúmeras obras visíveis.

              Assim, organizou o arcabouço legislativo municipal e, ao contrário dos políticos que só pensam em fazer obras aparentes, dedicou-se a cuidar da infraestrutura subterrânea da cidade, ampliando de modo significativo as redes de água e esgoto que se encontravam em estado precário em diversos pontos do Município e em outros sequer existiam.

            A lista de suas realizações como prefeito impressiona. E, mais impressionado se fica ao compará-la com o trabalho de outras gestões municipais, que sucumbem nas sombras ante a quantidade e a qualidade das obras que a administração Henrique Arnóbio fez ou conseguir que fossem feitas em São Roque e Araçariguama!

Visita do governador Carvalho Pinto e sua esposa, na inauguração do ginásio de São João Novo.

           Uma prestação de contas de seu governo, publicada no jornal “O Democrata”,  dois meses antes do término de seu mandato, em 25 de novembro de 1972, elenca parte do saldo de sua dedicação à Prefeitura de São Roque:

           “Plantamos em todos os setores, em todos os cantos do Município, uma obra administrativa. E com que sacrifício! Finanças em ordem. Planejamento feito. Reforma administrativa implantada, com os serviços implantados para o bom desempenho administrativo: Almoxarifado, Serviço de Compras etc. Instalado o SAAE e realizada a primeira etapa do novo sistema de abastecimento de água da cidade, obra de real envergadura. Feito o projeto do sistema de esgoto. O projeto do sistema de água. Ampliada a rede de esgoto e água, dentro de uma faixa excelente para São Roque, sem precedentes. Completamos o segundo trecho da Marginal,  abrimos novas ruas, como a John Kennedy etc., tendo sido feito o maior número de desapropriações. Foi pavimentada a maior área de ruas até agora realizada em São Roque, especialmente com aquelas em execução. Foram construídas escolas, com área superior a toda a vida administrativa de São Roque, com recursos próprios. Construímos o Fórum, o Centro de Saúde, foi assinado o contrato da construção do acesso à Castello Branco, graças ao entrosamento com o Estado, e medidas tomadas pela Prefeitura. Nunca se iluminou tantas ruas, como agora. Os bairros, os mais distantes da cidade, estão recebendo os benefícios até fevereiro. Foi construído um bairro totalmente novo, o Jardim Carambey, onde foi adquirido o imóvel, feitas  infraestrutura, iluminação e escola. Em todos os distritos ficará a marca da administração. Em Canguera, a retificação e alargamento de estradas. Em São João Novo, guias e sarjetas, iluminação, construção de três escolas, conclusão do Ginásio e criação de um Ginásio, além de completar a obra do Morro. Em Mailasqui, alargamento de estradas, ponte, escola e pavimentação. Em Araçariguama, escola, guias e sarjetas, praça, além de ter sido terminada a adução da água. A zona rural recebeu a atenção do poder público. A cidade, indiretamente, com a vinda de novas indústrias, com o dinheiro aplicado em obras públicas, como o Jardim Carambey, o Fórum, Obra da Água, o Centro de Saúde, a Ponte do Taboão, pavimentação etc., teve uma injeção de otimismo. O Jardim Público foi restaurado, o Cemitério é hoje digno de ser visto. Todos os bairros receberam os benefícios da energia elétrica. Enfim, a realização foi humana e progressista. Uma obra presente em todos os cantos e em todos os setores.”

           Esse gigantesco elenco de realizações foi produzido a partir de um orçamento deficitário e sem que o Prefeito Arnóbio entregasse um Município com dívidas ao seu sucessor, Jarbas de Moraes. Ao contrário disso, Arnóbio transmitiu o cargo com dinheiro em caixa, conforme expunha na mesma prestação de contas:

          “A situação financeira é excelente. A futura administração, que iniciará em fevereiro do próximo ano, poderá ter o alento necessário para um bom começo. Isso agrada ao Prefeito que vai terminar o seu mandato, com o sentimento de dever cumprido e certo de que a futura administração, por suas intenções administrativas, dará a sua contribuição para o futuro de São Roque.”

            Entre as ações de seu governo estão, ainda a construção e a entrega das 131 casas populares, conhecidas como as casas do BNH, edificadas no Jardim Carambey; a idealização de um Centro Turístico Comercial no imóvel que pertencia à Brasital; a criação da 150ª CIRETRAN, que permitiu aos motoristas a obtenção de carteiras de habilitação em São Roque; a construção da sede própria do BANESPA – Banco do Estado de São Paulo; aquisição de ambulâncias e de veículos e maquinários  modernos para realização de obras; reforma do Largo dos Mendes; canalização da água na Av. John Kennedy; a ampliação  e arborização do Cemitério da Paz; abertura e alargamento de estradas no bairro Pavão; construção das pontes do Saboó e Maylasky e de parte do pronto socorro da Santa Casa de Misericórdia; empenho para trazer uma agência do antigo INPS para São Roque e  desapropriação de uma área para   instalação de sua sede própria, que veio a ser construída anos mais tarde, ao lado do fórum; apoio à erradicação do analfabetismo entre adultos, facilitando a vinda do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização para São Roque, com a implantação de várias salas de aulas pelos bairros e distritos, o que permitiu a alfabetização de muitos adultos; a ultimação de uma série de providências para por em funcionamento os telefones automáticos em São Roque;  viabilização da instalação de diversas indústrias no Município, como a Peterco, a Cambucci e a Spina, entre muitas outras, que tempos depois fecharam suas portas  ou mudaram-se para outras cidades.

          Em relação ao incentivo dado para a vinda de várias indústrias para São Roque em seu mandato, muitas em Araçariguama, Henrique Arnóbio enfatiza que o estabelecimento das empresas no antigo Distrito se devia à facilidade de acesso para a Rodovia Castello Branco.

          “Foi criado o distrito industrial de São Roque lá, porque facilitava o escoamento da produção. A proximidade com a Castello Branco era um grande atrativo para os empresários. Infelizmente anos mais tarde São Roque perdeu Araçariguama”.

         Foi o último prefeito de São Roque a governar a cidade do alto do antigo casarão da Praça da Matriz onde havia sido instalada, no século XIX, a Câmara Municipal de São Roque. Pouco após findar seu mandato o imóvel histórico foi demolido e as sedes da Prefeitura e da Câmara transferidas para as dependências do antigo Colégio São José, na área central de São Roque.

Antiga Câmara Municipal – Casarão da Câmara Municipal de São Roque (1947). Arquivo Histórico Digital de São Roque. Disponível em httpwww.arquivosaoroque.com.bracervoit.jpg.

 

Os segredos do sucesso

          Questionado a respeito do modo como realizou a façanha de administrar o Município com tanto êxito, Henrique Arnóbio responde, sereno, que apenas cumpriu com boa vontade o dever imposto a qualquer homem público, ou seja, trabalhar com vontade, coragem e honestidade, procurando reunir pessoas e esforços em favor da coletividade e do progresso.

          “Tinha a maioria da Câmara ao meu lado e não encontrei resistência por parte dos vereadores de oposição ou mesmo por parte da população e dos meus adversários políticos para realizar todo o trabalho de regularização legislativa e de procurar ordenar o crescimento da cidade e fazer obras de maior vulto. Havia algumas divergências, como é natural, mas nada que interferisse ou interrompesse o trabalho”.

          “A Câmara Municipal me ajudava bastante. Eu fazia reuniões periódicas com o Legislativo, com a participação de vereadores da situação e da oposição, mesmo quando não havia temas específicos a tratar. Com isso, antes de concretizar projetos, nós já havíamos discutido os pontos que pudessem gerar mais polêmica ou divergência de opiniões. Esse entrosamento com a Câmara foi essencial”. 

          “Durante a minha gestão, a oposição não fez um trabalho destruidor contra o prefeito, como muitas vezes se vê. Pelo contrário, os vereadores da oposição costumavam trazer observações úteis ao desenvolvimento do Município, que mereciam ser consideradas e na medida do possível eu, enquanto prefeito, atendia. Sempre deixava claro para eles que o papel de todos nós, eu como prefeito e eles como vereadores, era fazer o melhor pela cidade e pela população. Todos tinham um interesse pelo desenvolvimento do Município e assim todos conjugavam seus esforços para isso”.

           O segredo do sucesso da administração Arnóbio também teve outro ingrediente. “Consegui grande ajuda por parte do governo do Estado e isso me possibilitou fazer muitas obras importantes, que São Roque há muito tempo necessitava”.

          Bons relacionamentos foram fundamentais para atrair recursos públicos federais e estaduais para São Roque. “O Carvalho Pinto, o Abreu Sodré e o Laudo Natel mandaram muito dinheiro para cá. Esse bom trânsito com os governadores vinha da grande amizade que eu tinha primeiramente com o Abreu Sodré. Quando ele ainda era deputado estadual e eu estudante de Direito, numa tarde de domingo, parei no bar Guarany para comprar um sanduíche, antes de tomar o ônibus para São Paulo. O Abreu Sodré chegou para comprar alguma coisa e ao me ver com livros de Direito na mão perguntou se eu era estudante do Largo de São Francisco”.

           Roberto de Abreu Sodré também havia sido estudante de Direito na tradicional  faculdade. “Ele estava indo para São Paulo e me convidou para ir de carro com ele. Aí começou uma grande amizade. Como ele sempre passava por São Roque aos domingos, quando voltava da região de Sorocaba, onde visitava familiares, começou a me pegar em casa e me deixava na porta da Casa do Estudante”.

           Em 1967 Roberto de Abreu Sodré se tornou governador do Estado e “…foi aí que ele começou a me ajudar e a ajudar São Roque. Ele veio diversas vezes para cá a passeio, com a esposa, D. Maria do Carmo, e também a trabalho. Quando o Banespa foi inaugurado ele fez questão de comparecer”.

           A sede própria do Banespa em São Roque, onde hoje funciona a agência do Banco Santander, foi inaugurada em 17 de abril de 1969.

A população foi às ruas saudar o governador Abreu Sodré, que veio a São Roque para inaugurar a agência do Banespa. Na Praça da Matriz, Abreu Sodré, ladeado por um assessor à esquerda e o prefeito Arnóbio à direita, é saudado por estudantes (Foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo – Memória Paulista)

           “Depois veio o Laudo Natel, que ficou no governo do Estado de 1971 a 1975 e também fiz amizade com ele, em razão da antiga amizade com o Carvalho Pinto. “Todos eles sempre vinham a São Roque, passavam na minha casa, almoçavam com a minha família. Era diferente a vida naquele tempo. Recebíamos as autoridades e os amigos em casa. Quando eu fui prefeito, sempre que fazia aniversário comemorava em casa e vinham as três bandas de música – Liberdade, Carlos Gomes e Sete de Setembro  – tocar, todos comiam petiscos, tomavam refrigerante e cerveja. Era divertido, era gostoso. Eram outros tempos, era outra a mentalidade.”

 

Quase Deputado Estadual

         Com essa gestão em extremo eficiente, não houve vontade de tentar a reeleição?  Perguntei-lhe. Respondeu-me categoricamente que não. “Fui candidato a deputado estadual em 1974, mas não fui eleito, apesar de bem votado em São roque, Sorocaba e até em São Paulo e várias outras cidades do Estado. Como eu havia participado de diversos eventos políticos e fui representante de São Roque e da nossa região nos congressos de Municípios, vários prefeitos me estimularam a concorrer e me ajudaram  na campanha. Com isso minha votação foi expressiva, mas não o suficiente para conquistar a vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo”.

Com o microfone, Henrique Arnóbio, candidato a deputado estadual em 1974, pela ARENA. À esquerda, de perfil, Paulo Egydio Martins, também da ARENA, eleito indiretamente governador do Estado de São Paulo pela Assembleia Legislativa paulista, para o mandato 1975-1979.

          A respeito da participação do prefeito Arnóbio no XV Congresso Estadual de Municípios, realizado no Guarujá em maio de 1971, vale destacar a fala do vereador Donaldo Lopes na tribuna da Câmara Municipal de São Roque, durante sessão realizada em 18 de maio de 1971, registrada nas Atas do Legislativo são-roquense :

          “Não poderia ficar calado, diante do que pude presenciar no último dia do Congresso de Municípios realizado na cidade do Guarujá.

          Refiro-me ao trabalho do nosso dinâmico Prefeito Dr. Henrique Luiz Arnóbio, que pelo seu dinamismo e conhecimento de causa, se tornou o congressista mais solicitado pelos Prefeitos e Vereadores presentes, e fazendo parte de diversas comissões, foi o relator da tese mais importante do Congresso que era a do I.C.M., apresentada pelos Prefeitos de Paraguaçu Paulista, São Roque, Mairinque, São José do Rio Preto e Bauru, e aprovada pela maioria.

           Apresentou de sua autoria uma tese baseada em sugestões sobre as revisões do I.C.M. e  aprovada por unanimidade, trabalho este que o representante do A.B.C., ocupando a tribuna fez questão de dizer que aquela era a mais importante e de maior benefício para todos os Municípios.

         Foi o nosso Prefeito o escolhido para redigir a Carta do Guarujá, uma síntese de tudo que se discutiu naquele congresso.

         Na sessão de encerramento na qual estive presente, coroando o êxito de seu trabalho, onde elevou tão alto e hoje mais respeitado o nome de nossa querida São Roque, foi o nosso prefeito o indicado entre quase 500 congressistas, para na presença do Senhor Governador Laudo Natel, grande número de Secretários de Estado, Deputados Federais e Estaduais, toda a imprensa falada, escrita e televisionada presente, ler a Carta do Guarujá.

        Parabéns, Dr. Henrique Luiz Arnóbio, que mais uma vez demonstrou o quanto ama a nossa Terra, que é hoje mais conhecida e respeitada em todo o Brasil, pois lá estavam  também representantes de outros Estados da União.

          (…) São trabalhos desta natureza onde se demonstra o amor a sua Terra e a sua Gente, que nos enchem de orgulho e nos contagiam, fazendo com que continuemos a trabalhar e colaborar com o nosso Prefeito, e que é nossa obrigação para podermos atingir a meta a que nos propusemos, que é um São Roque mais Humano, um São Roque pra Frente e que se todos colaborarem, tenham certeza, mais cedo o conseguiremos.”

 

O reconhecimento

            O conjunto da obra de Henrique Luiz Arnóbio eleva o seu nome, sob a ótica da avaliação histórica e política de São Roque, se não como o maior prefeito que o Município já teve, como um dos principais homens que governaram esta terra e sua gente.            

            Este trabalho de pesquisa histórica e entrevista é apenas um capítulo no contexto de suas ideias e realizações e estou segura de que muito ainda há a ser estudado e revelado a respeito da passagem de Henrique Luiz Arnóbio como advogado e político em São Roque.

           Vários eventos e realizações mencionados nesta entrevista voltarão a ser tema na coluna São-roquices, devidamente esmiuçados, para que os leitores de hoje e a posteridade saibam mais sobre a personalidade ímpar que foi Henrique Luiz Arnóbio e também sobre a história de São Roque.

           Iniciada a corrida para eleger o prefeito que o sucederia, Arnóbio deixou seus eleitores à vontade para votarem no candidato que melhor os representasse. “Eu tinha de concentrar minhas energias, meu tempo e meus esforços para concluir o meu mandato no mesmo ritmo em que havia trabalhado sempre. Não fui eleito para fazer campanha, fui eleito para trabalhar. Envolver-me na campanha eleitoral prejudicaria meu dever de administrar a cidade”.

           Após a campanha para Deputado Estadual, nunca mais se envolveu em atividades políticas, subiu em palanques ou sequer apoiou qualquer candidato nas eleições municipais que têm se seguido desde então.

           Henrique Luiz Arnóbio fez muito em pouco tempo.

           A reestreia da coluna São-roquices não poderia render homenagem a figura mais importante e grandiosa.

           Tenho uma estima particular em relação ao Dr. Henrique, que em razão da amizade com minha família conheço desde menina. Foi por seu conselho que me formei em Direito, antes de ser jornalista. E, também, posso afirmar com toda a convicção que tê-lo como leitor e receber seu contínuo estímulo aos meus escritos, desde os primeiros textos que publiquei no jornal “O Democrata”,  ainda adolescente, foram um honroso incentivo para que eu me dedicasse às letras.

           Esse afeto, porém, não confere parcialidade a este trabalho biográfico e jornalístico. Ao contrário, serviu para confirmar a impressão de grandeza que sempre nutri a respeito de Henrique Luiz Arnóbio.

           Em 1998, por iniciativa do vereador Newton Dias Bastos, Dr. Henrique Luiz Arnóbio foi condecorado pela Câmara Municipal de São Roque com a Medalha do Mérito “Barão de Piratininga”, destinada aos filhos ilustres desta cidade, como um preito de reconhecimento por toda a contribuição que prestou ao seu chão e à sua gente.

           Seu nome e sua biografia são dignos de muito mais honrarias e, indubitavelmente, São Roque haverá de reconhecer e prestigiar seu valor.

            Contudo, para São Roque realmente fazer jus ao legado de Henrique Luiz Arnóbio, a cidade deverá ter vereadores e governantes que se inspirem em seu exemplo de homem público capaz de legislar e governar com probidade e capacidade.

             Em muitas de suas manifestações ao longo de toda a carreira, Henrique Luiz Arnóbio expressava  confiança em Deus e rogava-lhe forças e serenidade para cumprir sua missão. 

             Foi, sim, atendido. E as bênçãos sobrevindas alcançaram não somente a si próprio, mas se estenderam por toda a cidade que de forma magistral organizou, governou e fez progredir, cuidando sempre para conservar-lhe a alma e a essência, para sua geração e para as gerações futuras.

               A prece, desta feita, é de todos que o querem bem, pedindo a Deus que o conserve por longo tempo entre sua gente .

“Peço a Deus que tenha a tranquilidade necessária para terminar a minha obra, a fim de que possa voltar, de mãos limpas, ao escritório de advocacia e ao lar, para sempre,  e por fim definitivamente cansado de servir durante muitos anos a terra em que nasci, nela hei de morrer.”

 

* Simone Judica é advogada, jornalista e colunista do site www.vanderluiz.com.br (simonejudica@gmail.com)

@simonejudicasr

 

Simone Judica

Advogada e jornalista.

8 thoughts on “HENRIQUE LUIZ ARNÓBIO

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  • Sílvia Cavalleiro

    Parabéns à Dra Simone Judica, q com sua competência e sensibilidade poética soube transmitir com maestria a bela história de um filho de São Roque.

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  • Júlio Meneguesso

    Parabéns a Simone Judica pela excelente matéria, que conta a história do ilustre Dr. Arnóbio, a quem tenho admiração e respeito. E parabéns a vc também Wander por ter a Simone no time. Grande conquista. Júlio Meneguesso

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  • Jorge Fernandes de Souza

    Sem palavras… Que retorno brilhante da Coluna São-Roquices. Parabéns Simone Judica e obrigado Vander Luiz por conceder um espaço em sua página para apreciar-mos e conhecer mais a história de São Roque.

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  • Sylviane Judica

    Que bela trajetória de vida do dr. Henrique! Parabéns Simone, por expressar tanta sensibilidade na seu texto, fazendo essa justíssima homenagem. Gostei muito.

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  • Glauco Roque de Paula Santos

    Parabens pela brilhante retomada das Sao-Roquices, SImone Judica. Sucesso a voce e ao Vander Luiz que tao bem vem ocupando o espaco da midia eletronica. Meus repeitos ao Dr. Henrique Arnobio e a Dona Irani. Saudades do Arnobinho que nos deixou tao cedo.

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    • Rosângela Maria Medeiros

      Sem palavras minha amiga, colega , profissional de grande vulto e cultura, de sensibilidade extrema e de uma doçura, que, combinada com sua elegância em tudo que faz, nos transmitiu conhecimentos que, com certeza , muito pouco sabiam. Parabéns Simone. Vc, com certeza, também faz e fará eternamente parte de essas saoroquices. Dr. Arnóbio foi também que me inspirou a ser advogada. Tenho o com muito respeito e mestre. Sua elegância em todos os momentos de sua vida, em qualquer situação que estivesse, demonstra ainda que, ser advogado , é sem dúvida alguma ser amante dos direitos e deveres de todos. Obrigada Dr! Com certeza inspirou muitos com suas dádivas. Ao Vander, também parabéns por esse espaço que concede ao nosso povo conhecimento e sabedoria. Arnobinho nos deixou apenas fisicamente, mas mostrou , assim como seu pai, ser um grande advogado e logo conquistou grandes legados. Basta vermos sua filha que segue a família Arnobio e Sousa com brilhantismo. Parabéns a todos.

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  • Emília Rita Judica Critelli

    Parabéns pela bela história, impecável. Texto riquíssimo e ilustrado com fotos. Foi uma viagem no tempo. Obrigada.

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  • carlos alberto gonçalves

    Parabénssssss , mais uma bela expalanação de Sãoroquices !!!! sempre um aprendizado de história recente de São Roque , brilhante reportagem , que venham outras.

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