EXPO SÃO ROQUE, “DÁ LICENÇA DE CONTÁ”
Por: Simone Judica*
A Expo São Roque terminou e não parece exagero dizer que esta 27ª edição da festa poderá ser considerada um divisor de águas no histórico do evento, que ano após ano se consolida no calendário turístico da cidade e do Estado de São Paulo.
Graças ao aspecto cada vez mais profissional de sua organização e, seguramente, em razão do acerto na escolha do tema deste ano – Tributo a Adoniran Barbosa -, a Expo São Roque demonstrou que combinar os encantos e delícias da terra com atrativos de destaque no cenário nacional é garantia de sucesso e um novo caminho a ser percorrido para continuar cativando o público.
A Expo São Roque é uma prova contundente de que o são-roquense não pode desdenhar da importância do segmento do Turismo como fonte de geração de emprego e receita e, embora composta majoritariamente de vinho e alcachofra e diretamente ligada ao Sindusvinho, demonstra haver muito mais espaço para programações turísticas na cidade além do Roteiro do Vinho.
A cada nova edição a Expo São Roque atrai mais turistas e muitos deles retornam e trazem mais amigos e parentes. O advogado Pedro de Souza é um exemplo disso, conforme declarou. “É o terceiro ano que venho e trago amigos e familiares. Eu não gosto de passear em lugares longe de São Paulo, onde moro. São Roque é perto, tem aquele ar gostoso de interior e a Expo é um passeio agradável e seguro, onde posso comer variedades de um prato delicioso, que jamais seria preparado em casa. Vir a São Roque uma vez por ano comer alcachofra já se tornou um ritual”.
Perguntei se ele voltaria a São Roque se houvesse outras festas temáticas e ele responde que sim.
Com uma dose de criatividade, o Recanto da Cascata pode ser transformado em palco de outras festas temáticas periódicas anuais que, se preparadas com o mesmo capricho da Expo São Roque, renderão excelentes dividendos.
Os setores competentes da Prefeitura, a iniciativa privada, entidades beneficentes e religiosas podem unir esforços e trabalhar para que isso aconteça.
Apenas a título de exemplo, vale lembrar de duas programações já oficializadas na legislação do Município e merecedoras de atenção. A primeira é a Semana Municipal da Cultura Cristã Evangélica, instituída pela Lei Municipal nº 4.488/2015, prevista para ser realizada todos os anos, do terceiro ao quarto sábado do mês de agosto.
Todos sabem que eventos religiosos atraem grande público. Em São Roque é uma redundância explicar isso, já que a festa em louvor aos denominados padroeiros da cidade atrai milhares de pessoas a cada mês de agosto. O número de evangélicos, também é sabido, cresce de modo significativo e representa uma fatia importante no mercado consumidor de produtos e cultura da chamada linha gospel.
São Roque já é de certo modo reconhecida pelo público evangélico em razão da utilização do morro do Saboó para vigílias, por parte de fieis de várias denominações religiosas, vindos de diversas partes do estado. Esse, aliás, é um tema que merece um artigo próprio, haja vista a degradação do meio ambiente que esses eventos têm causado.
Mesmo sem entrar nesse ponto no presente artigo, o registro dessas vigílias serve para mostrar que a cidade é reconhecida como um espaço apto à realização de eventos evangélicos. Por que não se criar um cenário próprio e com infraestrutura para receber esse público?
O grande número de denominações religiosas evangélicas estabelecidas na cidade também mostra que São Roque tem campo fértil para manifestações dessa porção de seguidores da fé cristã.
Por que não unir esses elos à programação da Semana Municipal da Cultura Evangélica e formar-se uma grande corrente de mobilização para transformar a cidade de São Roque em sede de um evento cristão de alcance nacional e até mundial, como ocorre em Balneário de Camboriu, Santa Catarina, onde anualmente, há trinta e seis anos, acontece o Congresso Internacional de Missões, promovido pelo grupo Gideões Missionários da Última Hora?
Durante uma semana, em abril, Camboriu recebe milhares de pessoas que vêm participar do Congresso Internacional de Missões. Esse público hospeda-se e alimenta-se na cidade, faz compras e utiliza-se de prestação de serviços, o que exige um exército de trabalhadores a postos e uma estrutura montada para recebê-los. O saldo final é uma cidade mais rica, mais pessoas empregadas, mais impostos nos cofres públicos e mais lucros para o comércio.
“É impressionante ver a quantidade de pessoas de todos os lugares do Brasil e do mundo participando da programação do Congresso. Além de ver visitantes sendo abençoados e ensinados sobre a Palavra de Deus, é possível ver como a cidade se beneficia com a presença dos congressistas, porque nós todos gastamos com hospedagem, alimentação, compra de lembranças e transporte. Os moradores de lá alugam quartos e fornecem refeições para os congressistas e os hotéis, pousadas, mercados, lojas e lanchonetes ficam lotados”, conta Fabiano Augusto de Oliveira, que já foi sete vezes ao Congresso, junto com uma caravana de São Roque.
Um evento que também poderia beneficiar o turismo em São Roque e ainda não foi regulamentado, embora já previsto na Lei Municipal nº 4.725/2017, é o Festival dos Ipês, com uma programação voltada à visitação de locais em que as floradas estiverem mais expressivas, atividades culturais, educativas, ecológicas e gastronômicas. A Prefeitura precisa se mobilizar para coordenar um plantio ordenado dessas espécies para, daqui a poucos anos, ser possível realizar o festival.
Esses são apenas dois entre os diversos nichos a serem explorados em São Roque, a fim de expandir o turismo e ampliá-lo para além do Roteiro do Vinho.
E, voltando ao êxito da recém encerrada Expo São Roque, é preciso chamar a atenção para alguns pontos que contribuíram em muito para os aplausos do público que a prestigiou. Como diria Adoniran Barbosa, “dá licença de contá”, o cenário que retratou parte da vida do boêmio paulistano e grande gênio da música, com peças e documentos originais, encantaram os visitantes e, mais uma vez, fizeram o são-roquense lastimar o triste fato de São Roque até hoje não possuir um museu, o que será tema futuro na coluna São-roquices.
Outro ponto alto da Expo São Roque foi a sua programação artística que soube valorizar muito os artistas de São Roque e das cidades vizinhas. A Banda Sinfônica Conselheiro Mayrinnk, o Grupo Dionísio de Teatro e Dança e o Grupo de Choro, Seresta e Serenata de São Roque mostraram que por aqui há talentos de sobra.
Interessante, também, observar que os artistas não estavam somente no palco, mas também na praça temática, onde foi instalado o cenário alusivo à vida de Adoniran Barbosa.
Por detrás do balcão do restaurante Parreirinhas, habitualmente frequentado por Adoniran Barbosa, estava o português Luís Manoel, a responder perguntas dos visitantes com sotaque português, de boina e uma caneta atrás da orelha.
Ao olhá-lo com mais atenção, reconheci que se tratava do ator e professor de artes mairinquense Luiz Ricardo de Oliveira, mais conhecido como “Outro Luiz”. Ele me contou que não foi contratado apenas para compor o cenário, mas, sim, para representar um personagem, o que deu um toque mais do que original e especial ao misto de restaurante e botequim.
“O coordenador da Expo, Toninho Renzo, explicou que tinha em mente um personagem para integrar o cenário do bar frequentado pelo Adoniran. Surgiu a ideia de que fosse um português. Como eu sou ator, não apenas me caracterizei como o personagem, mas dei vida a ele, com sotaque e tudo, falando com os visitantes como um português que realmente fosse o dono do bar. Os visitantes adoraram e interagiram muito comigo, não apenas tirando fotos, mas conversando sobre o evento e sobre a cidade de São Roque”, contou “Outro Luiz”.
Com experiência em diversos eventos de grande porte, como a Bienal Internacional de Dança e programações dos SESCs de Sorocaba, São Caetano do Sul e Tocantins, do Itaú Rumos e do PROAC, “Outro Luiz” define a Expo São Roque de maneira entusiástica. “Uma festa familiar, com uma organização fenomenal, que abriu oportunidades de trabalho para muitas pessoas e causou excelente impressão a turistas de perto e de longe. Aqui no meu balcão pararam pessoas de diversos estados brasileiros e de outros países também, como Alemanha, Dinamarca, Portugal e até da Rússia”, finaliza.
Para tornar a Expo São Roque ainda melhor, certamente há diversos itens a serem aprimorados e ingredientes a serem acrescentados, como é natural a qualquer evento ou empreendimento de longo prazo. Um deles, certamente, é a adesão dos são-roquenses, no sentido de que passem a enxergar nessa programação uma oportunidade da qual toda a cidade possa se beneficiar e não somente os seus organizadores ou aqueles que têm ali uma vaga para trabalhar.
E, para encerrar a Expo São Roque com chave de ouro, nada melhor do que a apresentação do famoso grupo Demônios da Garoa, maior difusor da obra de Adoniran Barbosa.
Por sua fama, talento e carisma, os Demônios da Garoa dispensam comentários. O grupo é queridíssimo em São Roque e já se apresentou na cidade diversas vezes.
O amigo José Carlos Baroni Garcia, o Zé Balaio, leitor das São-roquices, gentilmente cedeu alguns itens da sua coleção pessoal, que retratam a presença dos Demônios da Garoa em São Roque, em 1992, quando a cidade também recebeu o acervo do Museu Itinerante Adoniran Barbosa, por meio de uma promoção do Departamento de Cultura da Prefeitura local, com patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura e apoio do São Roque Clube:
* Simone Judica é advogada, jornalista e colunista do site www.vanderluiz.com.br (simonejudica@gmail.com.br)
Leia e compartilhe a coluna São-roquices”
Muito boa a coluna da Dra Simone que de forma simples e objetiva sob nos brindar com essa maravilhosa coluna
Festa mais que MARAVILHOSA.
Amei.
Obrigada.
Parabéns pela excelente matéria!!