ELEIÇÕESTEMA LIVRE

Panorâmica das eleições na microrregião de São Roque: semelhanças e diferenças com o cenário nacional

 

ROGÉRIO DE SOUZA é professor do IFSP, Campus São Roque e autor de artigos acadêmicos

As eleições do último domingo, 15, caracterizaram-se por frear o avanço do ultraconservadorismo remodelado de novo e antissistema que abalou o país nas eleições de 2016 e 2018. Além disso, desvelou uma tendência na esquerda brasileira: o descolamento e fortalecimento de partidos que até então orbitavam próximos ao PT. Assim, muitos eleitores optaram por candidatos considerados moderados ou por uma esquerda haitch, modelo século XXI.

Nas cidades com menos de 100 mil habitantes, o debate sobre o espectro político nacional parece distante e, no limite, surreal. Na realidade do chão poeirento dos pequenos municípios reinam, na escolha de prefeitos e vereadores, muito mais a personalidade de postulantes, se este é seu conhecido/a e se um parente ou conhecido/a é candidato/a à vereança pelo grupo de partido que apoia o/a postulante a prefeito, do que elucubrações sobre orientações ideológicas de agremiação X ou Y.

Por isso, quaisquer aproximações do cenário nacional às realidades das pequenas cidades necessitarão ser relativizadas e, mesmo assim, correrão risco de não se aplicarem. Feito esse preâmbulo, arriscaremos algumas associações.

Diante do insucesso de alguns políticos eleitos em 2016 e 2018, neste pleito os cidadãos e cidadã da microrregião de São Roque rejeitaram aqueles nomes que desenvolveram uma administração aquém ao anunciado e esperado em 2016.

Esse foi o caso de São Roque, com a derrota de Claudio Góes do PSDB; de Ibiúna com o insucesso de João Mello do PSD; e Araçariguama com o revés de Lili Aymar do Republicanos. Na região, o único prefeito reeleito foi Bimbão (SD) em Alumínio. Em Mairinque, a péssima avaliação de sua gestão levou o atual prefeito, Alexandre Peixinho do PP, a não entrar na disputa.

Outra aproximação possível é que a rejeição de nomes que a população concluiu que não deram certo não resultou na escolha de neófitos políticos. Os eleitos já foram vereadores, prefeitos ou já disputaram outros pleitos – com exceção do prefeito eleito de Araçariguama (mas de família com tradição política).

A título de exemplo, o prefeito eleito de São Roque Guto Issa (PODE) está no seu segundo mandato como vereador e Toninho Gemente (PSD) já foi prefeito de Mairinque em três oportunidades.

Outra semelhança à cena nacional é a quantidade de mulheres eleitas. Até então, somente nas câmaras de Alumínio (1) e Ibiúna (2) encontrávamos representantes do sexo feminino. A partir do próximo ano teremos 8 mulheres nas câmaras de São Roque (1), Mairinque (3), Alumínio (1), Ibiúna (1) e Araçariguama (2).

O ponto negativo nesta questão é que em Ibiúna tivemos uma redução, de 2 para 1 representante, e a microrregião não teve nenhuma prefeita eleita – Lili Aymar venceu em 2016. Ou seja, os prefeitos das 5 cidades são todos homens, brancos e com mais de 40 anos.

A renovação da câmara aconteceu em todas as cidades, com destaque para Araçariguama (8 novos nomes de 11) e Alumínio. Nesta última, somente a professora Meire foi reeleita, inclusive com a maior votação. Como a professora Meire se elegeu em 2016 com o segundo maior número de votos, se qualifica para disputar a prefeitura de Alumínio em 2024.

Semelhante à capital paulista, em duas cidades da região a abstenção foi maior que a votação do prefeito eleito. Em São Roque a abstenção foi de 18.131 e o candidato Guto Isso alcançou 17.699 votos.

Em Mairinque o postulante Toninho Gemente recebeu 9.601 votos e 10.067 eleitores não compareceram às urnas. A abstenção é um fenômeno que cresceu na última década e se acentuou este ano devido à pandemia da COVID-19.

Em quatro municípios a diferença de votos entre o primeiro e segundo lugar foi folgada com destaque para a cidade de Araçariguama, na qual o prefeito eleito, Rodrigo Andrade do PROS, obteve mais que o dobro da segunda colocada.

Em São Roque aconteceu o inverso: Guto Issa venceu Claudio Góes por uma diferença de 1,5 mil votos: 17.699 contra 16.180, indicando que a Terra do Vinho encontra-se dividida e que diálogos deverão ocorrer para não transformar a futura gestão num campo de batalha.

Para concluir, uma característica que destoa de muitas outras cidades brasileiras, é que em dois municípios da região os partidos dos prefeitos eleitos não conquistaram nenhuma vaga na câmara dos vereadores. Paulinho Sasaki do PTB e Rodrigo Andrade do PROS não terão nenhum/a correligionário/a nas câmaras de Ibiúna e Araçariguama, respectivamente.

Essas são algumas ponderações sobre os resultados das movimentadas e intrigantes eleições na microrregião de São Roque.

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

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