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Nota de falecimento. Murillo Silveira, 96 anos, dentista e pintor que fez da Capela de Santo Antonio sua marca registrada

 

Faleceu na noite desta quinta-feira (22) o dentista Murillo Silveira, aos 96 anos, em sua residência na Rua Rui Barbosa por volta das 19h45. Nascido em 29 de julho de 1921, foi o artista que mais retratou a Capela do Sítio do Santo Antonio fazendo da construção histórica sua marca registrada. O sepultamento deve ocorrer nesta sexta-feira (23), no Cemitério da Paz, às 17h.

Murillo era uma pessoa alegre e bricalhona, características marcantes que praticamente desapareceram com o falecimento da esposa Rosa Guilhermina de Oliveira Silveira há oito meses, como lembrou o filho Murilinho.

Murillo Silveira e ao fundo uma das telas que fez da Capela de Santo Antonio

Deixa os filhos Murillo Silveira Filho e Paulo Rubens Silveira, seis netos e bisnetos.

Murillo e Rosa foram festeiros de São Roque em 1954 ao lado do casal Vasco Barioni e Inês Ribeiro Lopes Barioni. quando as “Cavalhadas”  foram encenadas no campo do São Bento.

No mesmo ano foi inaugurada a pintura do altar da Igreja da Matriz. Por sinal, a pintura que tanto uniu os amigos Murillo e Vasco.

Nossos sentimentos aos familiares e com certeza o são-roquense guardará com muito carinho a lembrança de um amigo que por décadas morou na Rua Rui Barbosa e que se tornou um dos filhos mais queridos desta cidade.

Lembro dele quando era dentista na escola “Barão de Piratininga”, no Cambará. Isso mesmo, ao lado da diretoria a escola estadual  no anos 70 tinha um “gabinete de dentista”.

ENTREVISTA AO JORNAL DA ECONOMIA

Em agosto de 1991, o Jornal da Economia na edição de aniversário de São Roque, publicou uma entrevista com Murillo, onde ao lado do jornalista Carlos Mello tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da vida deste ilustre são-roquense. Aqui destaco alguns trechos.

Murilo tinha então acabado de completar 70 anos.

Murillo em sua sala de pintura: o velho cavalete foi um presente do mestre Pedro Gentille que pintou a Igreja da Matriz de São Roque. Jornal da Economia agosto de 1991

Filho de Irineu Campos Silveira e Maria Josefina Verani, descendentes de tradicionais famílias são-roquenses, Murillo herdou do pai o gosto pela pintura.

“Meu pai se formou pela Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1927, mas faleceu ainda muito jovem com apenas 33 anos. Além de ser um excelente pintor, também se dedicou à música”, comentou Murillo.

Apesar da vontade de se dedicar à arte, Murillo não encontrava tempo disponível.

Em 1943, aos 22 anos, se formou em odontologia pela Universidade de São Paulo (USP) e a profissão ocupava todo o seu dia. Isso sem contar as inúmeras vezes em que foi chamado as pressas para atender casos de emergência.

Os anos foram correndo e Murillo constituiu família. Com ela uma vida mais tranquila e finalmente o tempo para pintar quadros.

Tinha talento, mas precisava se aprimorar. Dessa forma, teve aulas com famosos pintores Rômulo Lombardi e Augusto Stefanelli.

Depois vieram outros mestres, como Pedro Gentille, que ao lado do irmão Uderico, pintou a Igreja da Matriz de São Roque, em trabalhou que levou cerca de quatro anos e que até hoje pode ser admirado.

Nessa época, também foi importante o apoio de amigos como Diaulas Riedel, diretor da Editora Pensamento.

Murillo Silveira com o pintor Franco Masotto e Carlos Henrique Lambiazzi em evento na Brasital

A CAPELA DE SANTO ANTONIO 

O próprio Murillo definia sua forma de pintar. “O meu estilo é de pintura clássica. Gosto muito de pintar paisagens, além de vários pontos históricos da nossa cidade como a Igreja de São Benedito, a Estação Velha, a Praça da Matriz da década de vinte e a Capela do Sítio Santo Antonio”.

Aliás, existem pessoas que acham que ele pintou somente a Capela de Santo Antonio que se tornou uma marca registrada do artista.

“Eu fui até lá e gostei imensamente. Por isso, resolvi pintar a Capela de Santo Antonio que tem um grande valor histórico. Hoje, continuo pintando porque a procura é grande e dependendo da inspiração a tela pode ficar pronta em uma semana”, explicou.

Murillo também pintou as cidades históricas de Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana e Sabará) e Parati (RJ).

De 1969 a 1971 vendeu quadros na Praça da República, em São Paulo, nos fins de semana. Lá também foram vendidas várias telas da Capela do Santo Antonio principalmente para turistas ingleses.

O comprador ganhava um histórico da capela e casa bandeirista construídas por Fernão Paes de Barros.

Em 1972, o governador Laudo Natel, em comemoração ao seu primeiro ano de mandato, recebeu do prefeito são-roquense Henrique Luiz Arnóbio (1969/73) e de um grupo de vinhateiros  um quadro da Capela de Santo Antonio durante audiência no Palácio dos Bandeirantes.

Em 1978, outra pessoa famosa também adquiriu a sua Capela de Santo Antonio, o ator são-roquense Juca de Oliveira que veio pessoalmente na casa de Murillo.

Na entrevista, disse que apesar de tantos anos de experiência continuava se aperfeiçoando.

“A pintura é sempre uma pesquisa. Um eterno procurar”, disse.

Aos 70 anos ele tinha aulas com o pintor carioca Carlos Augusto Cardoso que estava radicado em Sorocaba.

Murillo participou de todos os Salões de Arte de São Roque, além de expor em Sorocaba, Santo André e Mairinque, onde ganhou um primeiro lugar. Claro, com um quadro da Capela de Santo Antonio e em outras oportunidades fez parte do juri.

Jornal da Economia edição especial aniversário de São Roque 1991 trouxe na capa a Capela de Santo Antonio pintada por Murillo Silveira

SUGESTÃO DE MIZAEL GARBIM

A entrevista com Murillo Silveira para aquela edição especial do aniversário de São Roque foi uma sugestão do artista plástico Mizael Garbim que fazia a arte final do Jornal da Economia.

No editorial, falamos da indicação de Garbim que ilustrou o comentário retratando Murillo Silveira.

Jornal da Economia agosto de 1991

 

Mizael Garbim sugeriu que o Jornal da Economia entrevistasse Murillo Silveira na edição de aniversário de São Roque em agosto de 1991

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

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