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Quilombo do Carmo e a resistência negra na região, a essência do novo trabalho de Matheus Pezzotta

Matheus Pezzota se apresenta nesta quarta-feira no Instituto Federal de São Roque, às 16h

Esta semana o músico Matheus Pezzotta lança o EP Descendente disponível nas principais plataformas de streaming de música a partir do dia 10/05, o álbum apresenta quatro músicas do compositor, nascido em São Roque (SP). Um convite para reverenciar a ancestralidade e a força das matrizes africanas na cultura local. O trabalho soa ritualístico, reverencia os antepassados do artista, personagens entrelaçados com a história de resistência e as manifestações culturais das populações negras da região, tendo como ponto de referência o Quilombo do Carmo – comunidade tradicional localizada na cidade de São Roque, desde o início do século XVIII, ainda em luta pela titulação das terras e acesso aos serviços públicos básicos.

O violão conduz a narrativa, rege a escalada sonora em ciclos, desperta tambores que resolvem romper o tempo presente para pedir coro e, também, socorro. Matheus Pezzotta canta, evoca outras vozes e entoa letras marcadas por signos de luta e festa.

A gravação contou com a participação do músico e pesquisador referência em Culturas Negras, Salloma Salomão. As cantoras Marina Rosa e Selma Fernands, junto aos vocais de Edson D’aísa e João Bid, sustentam os coros. Na percussão, Manu Neto. Adriano Sambatti, no contrabaixo. Alaécio Martins, no trombone. Clarinete e sax tenor, por Paulo Mantovani.

Outro destaque é a participação especial do percussionista João Mário, que trouxe o bumbo tradicional Cangussú, da comunidade Cururuquara, na faixa “Terras Paulistas”. O designer gráfico da capa é de autoria de Henrique Picolo. O material foi gravado e finalizado no Estúdio JCP, do produtor musical Julio Paz, em Sorocaba.

“Fico muito feliz com a sonoridade deste trabalho. É o resultado de um processo identitário que venho vivendo enquanto filho, enquanto músico,  enquanto compositor. É a sonoridade de muita gente. Um som gerado a partir de muitas vozes, muitas pessoas. Um som em que me reconheço. É o som do chão do jardim da minha avó”, declara Matheus Pezzotta.

O show de lançamento será realizado no Instituto Federal de São Roque nesta quarta-feira (10 de maio), às 16h,  voltado para os estudantes do campus. No palco, Matheus Pezzotta (voz e violão), Manu Neto (percussão), Adriano Sambatti (contrabaixo) e Jenny Costa (intérprete de LIBRAS).

A apresentação conta com direção de Pedro Cobra, figurino de Larissa Miyashiro e produção executiva de Samantha Zucas. O evento integra as ações do projeto aprovado pela Lei Municipal no 4.084 de 14 de outubro de 2013, que dispõe sobre a Lei de Incentivo à Cultura e a Criação do Fundo de Cultura Municipal – Projeto Descendente n°11/2022.

SONORIDADES E AFETOS

As músicas são entremeadas pelas manifestações culturais tradicionais presentes na região do Quilombo do Carmo há alguns séculos, em relação direta com outras comunidades negras do estado de São Paulo. O samba de bumbo, o ijexá, o jongo, marcam o território percussivo do álbum, assim como marcaram as comunidades negras da região ao longo da história. 

O EP Descendente abre com “Seiva”, música instrumental que surge na sutileza de uma nota, em sua insistência de existir. Logo, vira ginga de preto-velho no abre-alas de significados do trabalho. “Terras Paulistas” convida a sonoridade tropicalista para dialogar com a brasilidade ancestral, em um rito coletivo de lamento e celebração.

“Tinha uma preta no meio do caminho” se apresenta como canção de ninar e acaba por embalar a história comum da mulher negra periférica, suas angústias, apagamentos, lutas, em uma espécie de quadrilha literária decolonial. “José Cabinda” finaliza o álbum com o canto de saudação para um dos principais líderes espirituais da história do interior paulista, revolucionário do século XIX que organizou movimentos expressivos de libertação de negros escravizados em São Roque e região.

Assim, o EP Descendente desperta a ancestralidade que habita em nós e celebra a potência de diferentes culturas que edificaram as comunidades negras vizinhas e sustentam suas bases até os dias atuais. Um percurso narrativo construído através da relação íntima de Matheus Pezzotta com o território simbólico e físico do Quilombo do Carmo. Para partilhar essa jornada e ouvir o álbum na íntegra, acesse o link (clique aqui)

Texto de Mário Sérgio Barroso

Comunicador Social/Gestor Cultural

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

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