O DEMOCRATA: 103 ANOS DE HISTÓRIA
Por: Simone Judica*
Quisera existisse a tão sonhada máquina do tempo…
Entre as viagens que faria a São Roque de outrora, embarcaria, pois, rumo ao dia 1º de maio de 1917 para, naquela manhã outonal, vivenciar o alvorecer de O Democrata!
Sentada em um banco da Praça da Matriz, emoldurada por primorosa arquitetura colonial, a sentir a brisa fresca tão peculiar ao clima serrano de São Roque, certamente logo avistaria o professor Antonio Villaça acompanhado pelos tipógrafos Heitor e Francisco Boccato… Sim, eles mesmos, trazendo nas mãos os primeiros exemplares de O Democrata!
Notaria, por certo, o professor Villaça e os irmãos Boccato a distribuir o exemplar inaugural de O Democrata com um misto de orgulho e satisfação, semelhante àquele que acomete as mães, quando apresentam, a familiares e amigos, seus filhos recém-nascidos.
Aquela primeira folha, caprichosa e artesanalmente elaborada e impressa, provocou deliciosa agitação na cidade! E foi passando de mão em mão, entrando em lares e comércios, sendo lida e comentada, recebendo elogios, críticas e sugestões, tal como até hoje se dá, a cada novo exemplar posto em circulação.
Talvez seja essa uma percepção poética do nascimento de O Democrata. Pueril, diriam alguns; romântica, cogitariam outros.
Todavia, é inquestionável que houve auspiciosa recepção ao seu primeiro exemplar, constituindo-se em fator decisivo a encorajar a continuidade do trabalho, a cada nova semana. E, assim entusiasmados, seus idealizadores seguiram cativando outros cidadãos e motivando-os a participar do empreendimento escrevendo artigos, veiculando notícias, publicando anúncios, lendo e comentando as edições.
Antes de ser jornalista, professor Villaça era educador e sua carreira no ensino público levou-o a caminhos distantes de São Roque. Com isso, os irmãos Boccato, na década de 1920, assumiram a direção do jornal, que segue, até hoje, sob os cuidados da família, já em sua quarta geração.
Sob as batutas da família Boccato, O Democrata, modestamente iniciado, cresceu, ganhou solidez e envolveu de tal modo a comunidade, que se tornou patrimônio não apenas de seus proprietários, mas da cidade de São Roque.
Seus criadores foram visionários! Afinal, nos árduos tempos da Primeira Grande Guerra, quando não se sabia que rumo o mundo tomaria e o que dele restaria, não somente criaram um jornal, como o batizaram com o significativo nome de “O Democrata”, sinalizando, desde logo, sua independência e o propósito de representar a voz e os interesses do povo.
Porém, por mais visionários que fossem, não creio que ousassem imaginar as proporções que sua criação atingiria: a outrora singela folhinha foi tendo suas páginas e tiragens de tempos em tempos multiplicadas; as históricas linotipos, onde o jornal era, letra a letra, confeccionado, tornaram-se peças de museus, cedendo lugar à diagramação digital; parte de papéis e tintas deixou de ser usada, quando O Democrata ganhou dimensão virtual, viajando mundo afora, pelas asas da tecnologia!
O Democrata, nesta já mais do que centenária trajetória, coleciona inúmeros méritos. Entre eles, destaca-se, por óbvio, sua longevidade, diferenciando-o da maioria absoluta dos periódicos com fundação contemporânea à sua e hoje registrados na história como folhas desde há muito mortas.
Nestes tempos, em que o jornalismo a cada dia mais se afasta do papel impresso e os consumidores de informação preferem conteúdo audiovisual à leitura, o desafio de O Democrata, sintetizado em seu slogan, de seguir na posição de “semanário dedicado aos interesses do Município e região”, agiganta-se.
A esse fenômeno social de ascensão das mídias não impressas, somam-se as novidades, incertezas e necessidades de adaptação às mudanças, decorrentes da inesperada pandemia de Covid-19, que tem diminuído a circulação das pessoas e reduzido as atividades comerciais.
Faço votos que, sempre, O Democrata consiga se reinventar, superar os obstáculos e prosseguir, honrando o legado de seus fundadores e seus diretores.
Para mim, o jornal O Democrata tem um significado especial. Foi em suas páginas que publiquei meus primeiros escritos e firmei-me como cronista e jornalista, graças à confiança do querido professor Élcio Roque Boccato e ao apoio do igualmente querido Rubens José Boccato.
A coluna São-roquices, nascida e bem criada nas páginas de O Democrata, firmou-se como um espaço de promoção, defesa e resgate histórico da cidade de São Roque e sua gente. Hoje, mesmo publicada em outro endereço – o site do jornalista são-roquense Vander Luiz -, conserva seus princípios, ideais e, também, a perene recordação de sua origem, com extremos carinho e consideração.
Parabéns, O Democrata!
* Simone Judica é advogada, jornalista e colunista do site www.vanderluiz.com.br (simonejudica@gmail.com)
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Mesmo com a avalanche de informações digitais na atualidade é impossível deixar de ler está mídia impressa,
Parabéns!!!
Parabéns… Sempre belas palavras!!!
Bela homenagem, Simone, parabéns!!!