A primeira Festa do Pêssego de Mairinque em 1964
A primeira edição da Festa do Pêssego de Mairinque foi destaque do Jornal O Estado de Esportes – Edição de Esportes de 23 de novembro de 1964. Vale lembrar que grandes jornais, como O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, não circulavam as segundas-feiras. Era um tempo em que A Gazeta Esportiva deitava e rolava nas bancas. Pois na segunda-feira trazia o amplo noticiário esportivo do fim de semana. Aliás, como fazia nos outros dias da semana.
No entanto, o Estado de São Paulo teve nos anos 60 uma edição de esportes que circulava na segunda-feira que também trazia um ou outro destaque fora do esporte.
Naquela edição destacou, a abertura da Festa do Pêssego, que também foi chamada de FEPEMA, com o título “Pêssego dá trabalho e coroa” o qual reproduzo. Trabalho para organizar o evento e coroa porque tinha a escolha da rainha.
Pêssego dá trabalho e coroa
O pêssego é tão importante para Mairinque que até o prefeito João Chesine (na reportagem grafado como “Quesino”, erraram justo o nome do prefeito) junto com o delegado e os vereadores passou o sábado inteiro com roupa de briga, martelando e serrando para terminar em tempo os preparativos da Primeira Festa do Pêssego, que começou ontem [22 de novembro].
A chuva de toda a semana atrapalhou muito a montagem das barracas da exposição, mas fez as frutas que gostam de água ficarem maiores e com cor mais bonita.
Desfile de escolas, de bandas de música, fanfarras e escoteiros saudaram o pêssego, que logo terá sua rainha. Muita moça bonita se inscreveu no concurso esperando ganhar a coroa que poderá usar até o dia 6 de dezembro, quando tudo se acaba, até a safra do ano que vem.
O MEIO MILHÃO
Mairinque produz por ano meio milhão de pêssegos, e está sempre plantando mais, porque a procura é grande. O pessegueiro também colabora, podendo produzir até 800 frutos, mas nunca chega a tanto, já que o maior trabalho do agricultor é arrancar quase metade dos pêssegos ainda pequenos para que os que sobrarem, sempre os melhores, possam ficar bem grandes.
A cultura de pêssego é trabalhosa, exigindo muita mão-de-obra. A muda comprada já enxertada e depois de plantada começa a produzir no segundo ano, mas só no terceiro é que dá em uma escala comercial.
Em Mairinque, o dr. Okamoto está plantando mudas para que no futuro não tenham mais que ser trazidas de Mogi [acredito que seja das Mogi das Cruzes] que é longe.
Depois de adubada a terra, e depois de se colocar o calcário, que vem de Salto de Pirapora, o japonês, porque é ele o maior produtor, tem que rezar para que não dar pulgão nas árvores para não gear quando o fruto está crescendo, e tem que comprar os saquinhos de celofane, que são muito caros.
Cada saquinho para o envolver o pêssego custa quase CR$ 1,00 [um cruzeiro], e durante o crescimento da fruta 20% dos saquinhos perdem e têm que ser recolocados, mas a vale a pena, porque, quando protegido, o pêssego fica muito maior e com uma coloração toda especial, que atrai o comprador. Além disso, o bicho de pêssego não fura o saquinho.
QUANTO ANTES MELHOR
Como toda produção anual, o pêssego varia muito de preço, e por isso o produtor fica torcendo para que sua safra comece logo. A primeira colheita pode ser vendida no varejo até a CR$ 4.000,00 a caixa, com 24 frutas; depois quando os pêssegos já estão em franca produção, o preço baixa, às vezes deixando até de ser compensador.
Além da fruta fresca, muito agricultor produz a “linha de conserva”, que as cooperativas vendem para fábricas que industrializam o produto, preparado em calda ou então como pessegada.
Os produtores de Mairinque e Itaquera, que não estão muito longe do mercado consumidor, preferem vender a fruta fresca, uma vez que o pêssego pode aguentar facilmente uma semana depois de colhido, sem estragar, não dependendo de transporte urgente.