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Nota de falecimento. Alcides de Oliveira Pinto, 91 anos. O nosso Cid Marmelo

Cid Marmelo com a esposa Eunice na sua tradicional Festa de Santo Antonio

Alcides de Oliveira Pinto faleceu aos 91 anos na noite deste de sábado (6) no Hospital das Clínicas em São Paulo. Cid Marmelo se envolveu em acidente na manhã de quinta-feira (4) na rodovia Lívio Tagliassachi acesso à Castello Branco quando se dirigia para o seu sítio em Araçariguama.

ATUALIZAÇÃO às 13h30: O sepultamento será neste domingo, às 17 horas, no Cemitério da Paz, em São Roque. A família aguarda a chegada do corpo para o velório que terá a duração de duas horas com a limitação de apenas 10 pessoas em rodízio.

No momento em que cruzava a pista para acessar à Estrada do Mombaça ocorreu o choque com um veículo que seguia sentido Araçariguama. A batida atingiu o lado do condutor. O outro motorista foi socorrido na Santa Casa de São Roque.

Cid Marmelo foi resgatado pelo helicóptero Águia da Polícia Militar. Sofreu várias fraturas na bacia e costelas e tinha hemorragia interna. Operado estava na UTI, mas infelizmente não resistiu.

Antecipadamente os familiares agradecem as orações e as manifestações de carinho nos últimos dias e neste momento de profunda dor e entende as limitações impostas por esses tempos difíceis de isolamento social.

Cid Marmelo nasceu em 11 de setembro de 1928 e era casado com a professora Eunice com quem teve os filhos Alcides de Oliveira Pinto Júnior, Alny e José Antonio (in memorian) que faleceu em 1989. Deixa também a neta Heloísa e os irmãos Mauro e Lourdes. Os irmãos Zito, Benedita e Bode são falecidos.

Era uma pessoa das mais queridas em São Roque e extremamente bem relacionada. Tinha a energia de um menino, algo surpreendente para a idade. Bom de conversa, prestativo, ajudava entidades.

Filho de Maria e Antonio de Oliveira Pinto, foi comerciante e ao lado do pai trabalhou com venda e transporte de carvão em um depósito na Avenida Tiradentes, local onde hoje está o Restaurante Kim.

O pai inaugurou a Casa Oliveira Pinto em 3 de janeiro de 1953 e depois passou para os filhos filhos Cid e Mauro.

A Festa de Santo Antonio que organiza no sítio era uma prova do seu dinamismo. Leia o texto abaixo

Cid Marmelo e a esposa Eunice na Festa de Santo Antonio em seu sítio

Neste ano, por conta da pandemia, a festa não seria realizada, mas pensava em pelo menos levantar o mastro de Santo Antonio em homenagem ao padroeiro.

Apesar da gravidade do acidente, eu estava confiante na recuperação. Não seria fácil, mas estava esperançoso.

Infelizmente, perdi um amigo. Perdemos…

Valeu muito ouvir suas histórias e aprender com a sua história de vida.

E QUANTAS HISTÓRIAS

Conheci Cid Marmelo há alguns anos na Farmácia São José na avenida Tiradentes, em frente ao Largo dos Mendes.

Cid era um dos amigos que marcavam ponto da farmácia dos sócios Roberto Calvo de Castro e Sylvio Agostinho.

Ele disse que me ouvia na Jovem Pan e logo começou contar as histórias de São Roque. E como tinha histórias.

Um verdadeiro arquivo ambulante com lembranças do futebol, Festas de Agosto, procissão, pessoas, escalada e acampamento no Morro do Saboó, Casa Oliveira Pinto, São Roque Clube, do pai Antonio de Oliveira Pinto que foi vereador em Araçariguama, mas em uma fase anterior.

Araçariguama foi município e depois foi anexada a São Roque até se emancipar novamente no início dos anos 90.

Histórias e mais histórias.

Mas Cid Marmelo evitava gravar entrevistas. Dizia que não gostava de aparecer. “Conto as histórias, mas não precisa citar meu nome”.

Vira e mexe ligava pra mim e eu ligava pra ele.

Várias vezes convidou para que fosse a Festa de Santo Antonio, mas por conta da escala de trabalho na rádio eu nunca conseguia comparecer.

Até que finalmente consegui  e virei freguês de uma festa junina especial com doces e salgados maravilhosos e muita conversa.

A festa tinha a Claudete Brega ao lado da dona Eunice comandando o fogão de lenha e garantindo que não faltasse nada aos convidados. Claudete que nos deixou recentemente no dia 25 de março. 

Claudete Brega carregando o mastro de Santo Antonio

Tinha reza, fogueira gigante, o mastro de Santo Antonio e o show pirotécnico que “perdia somente para a festas da virada de ano em Copacabana e do padroeiro São Roque “, como gostava de dizer.

José Bez e Cid Marmelo levantando o mastro de Santo Antonio

Cid soltava um morteiro no terreiro e estava dado o sinal para que o Hélio Fogueteiro descarregasse a bateria.

Uma pessoa especial que telefonava no dia 31 de dezembro, faltando alguns minutos para a meia-noite, para desejar feliz ano novo.

Disse que eu não precisa mais ser convidado para a Festa de Santo Antonio. Era só aparecer. E cobrava quando eu faltava. Mas sempre recomendava, “venha como amigo e não como repórter”.

Apesar da recomendação, fiz um texto quando fui pela primeira vez em 2015. (Leia abaixo)

Em 28 de junho e 2018, na posse de José Ricardo Pinheiro Lima (Dedé) na presidência do São Roque Clube, finalmente gravei uma entrevista com Cid Marmelo.

Falou do nascimento do São Roque Clube com a fusão do São Paulo Clube com a Literária, em 1963. Cid era da diretoria do São Paulo.

Na entrevista abaixo, falou de outras passagens. Inclusive, a origem do apelido que com ele chegou à terceira geração começando com o avô Juca Marmelo, que tinha uma plantação de marmelo na fazenda de cem alqueires onde hoje está o restaurante Casarão, na Castello Branco.

ENTREVISTA COM CID MARMELO EM 2018

 

LEIA ABAIXO TEXTO DE 2015

FESTA DE SANTO ANTONIO NO SÍTIO DE CID MARMELO E DA PROFESSORA EUNICE

Cid Marmelo e dona Eunice abriram mais uma vez a porteira do sítio em Araçariguama para a festa de Santo Antonio. Pela primeira vez, finalmente consegui atender ao convite do amigo Alcides de Oliveira Pinto, 86 anos, e viver momentos bem legais ao lado de velhos conhecidos e de novos amigos.

O casal organiza há muitos anos a festa de Santo Antonio. Começou em 1969 e seguiu até 1989, quando a morte de um filho de 18 anos em um acidente de carro interrompeu a sequência.

Depois de 10 anos, a festa voltou e se mantém como ponto de encontro de uma centena de pessoas. “Era para ter mais gente se o jantar dos festeiros de São Roque não fosse marcado para o dia de Santo de Antonio”, lamentou Cid.

“Teve gente que passou durante o dia para dizer que não tinha como comparecer. O Zé do Nino foi uma das ausências sentidas”.

Cid organiza tudo e não esquece nenhum detalhe seguindo um ritual. Por isso, ele é chamado de “prefeito” da festa.

Tem reza, mastro, fogueira e queima de fogos. E claro, pipoca, mandioca frita, quentão, chocolate, paçoca, doces e vários tipos de bolo. O mastro é carregado por homens e mulheres e contorna a fogueira antes de ser fixado.

A queima de fogos é feita na parte mais alta do sítio e para avisar que o foguetório pode começar o “prefeito” solta um morteiro.

Mas se algum engraçadinho soltar um morteiro antes da hora? “Aí eles tocam fogo”, brinca.

Enquanto os fogos espocam no céu estrelado cresce o entusiasmo dos participantes.

No início, o comentário é que o “espetáculo” vai superar os fogos da Festa de São Roque. Alguns minutos depois já tem gente falando que “a virada de ano em Copacabana não é de nada”.

Ainda estou devendo uma visita como mais calma quando o Cid vai abrir a caixa de fotos e contar muitas histórias.

Por enquanto, ele lembra rapidamente do tempo que ele e seu pai Antonio (aí está a razão de organizar a festa de Santo Antonio) retiravam lenha do sítio para levar até São Roque onde mantinham um depósito de carvão na avenida Tiradentes, onde hoje está o Restaurante Kim.

“Hoje com o acesso à Castello Branco está fácil porque estamos a poucos metros do asfalto, mas antes era preciso dar uma volta enorme passando pelo sítio do Lula de Góes até chegar aqui na estrada do Mombaça”, recorda Cid.

Mas durante a Festa de Santo Antonio já deu para ter ideia do cuidado de Cid Marmelo em preservar a memória da família.

Na parede estão fotos de quase todas as edições da festa. Cada cômodo guarda um pouco de história.

Na cozinha o fogão de lenha que garante água quente na torneira, objetos antigos e fotos.

Uma delas mostra participantes da romaria “Mesmo Que Chova” em 1948. A romaria foi criada pelo ex-prefeito de São Roque Lívio Tagliassachi e não tinha nome. Até que um dia um participante perguntou se a romaria iria sair mesmo com chuva.

Na sala, a imagem de Santo Antonio e entre as fotos uma chama atenção. É o retrato do patriarca da família José Oliveira Pinto que foi proprietário de uma fazenda onde hoje está o restaurante Casarão (km 54 da Castello).

Retratos do avô Juca Marmelo e do padroeiro Santo Antonio

“Meu avô era chamado de Juca Marmelo por ter plantação de marmelo. Ele também fazia pinga e não gostava do apelido, mas pegou. Passou para o meu pai que foi vereador em Araçariguama antes de ser incorporada por São Roque e eu mantenho a tradição”. Araçariguama voltou a ser município em 1992 quando se emancipou de São Roque.

A família está presente no comércio há 62 anos quando a Casa Oliveira Pinto foi inaugurada no dia 3 janeiro de 1953. Hoje, sob o comando de Mauro Oliveira Pinto, 76 anos, é a mais tradicional loja de ferragens, ferramentas e utilidades domésticas da cidade.

Cid Marmelo com o casal Ofélia e Lourenço
Cid Marmelo conduz o mastro de Santo Antonio
Cid Marmelo com o casal Ofélia e Lourenço
Cid Marmelo e o filho Aldy na Festa de Santo Antonio
Mastro de Santo Antonio

Cid Marmelo e a fogueira de Santo Antonio

Zé do Nino, Ferruccio Tambelli, Roberto Godinho e Cid Marmelo no São Roque Clube. Foto O Matilde

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

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