O Dia de Finados nas páginas históricas do Jornal O Democrata
Dia 2 de novembro, Feriado de Finados. Dia dedicado aos mortos que – a exemplo de outras datas nacionais, estaduais ou municipais – perde, ano a ano, sua essência. As pessoas utilizam cada vez a folga para viajar ou ficar em casa.
O centenário arquivo do Jornal O Democrata permite essa confirmação, com o espaço que o Dia de Finados tinha na própria imprensa. Emissoras de rádio e TV oferecem mais espaço ao tráfego nas rodovias do que à movimentação nos cemitérios e à programação religiosa.
Há 50 anos, O Democrata, de 2 de novembro de 1974, estampou na primeira página o trabalho do professor Élcio Roque Boccato, diretor-redator do jornal, que apresentou um texto do Barão de Piratininga (Antonio Joaquim da Rosa) por ocasião do lançamento da pedra fundamental da capela do Cemitério da Paz de São Roque, em 1882 pelo vigário João Carlos da Cunha, o mesmo que criou a Entrada dos Carros de Lenha, então com o objetivo de comprar uma nova imagem de São Roque.
O Barão de Piratininga destaca como os mortos são lembrados em várias partes do mundo. “As matronas indígenas afugentam os insetos e os espíritos maus com um leque de palmeira. Vê-de as gigantescas pirâmides do Egito… Vê-de os téo-callis do México… Vê-de na cidade eterna [Roma] as catacumbas de São Sebastião… Vê-de a sepultura, da qual o inspirado Nazareno fez ressuscitar Lázaro. No presente, como no porvir, quando os entes que nos são caros demandarem uma estreita morada no Campo Santo, onde não entram as paixões e as vaidades; quando viermos umedecer de lágrimas e trazer flores que traduzem o sentimento, nós e os nossos vindouros bem diremos o nome do Padre Cunha”.
Ainda na primeira página, há o texto “Finados é o dia que a saudade chora mais!…” transcrito do Jornal A Voz de Bebedouro. Em 1974, o respeito ao Dia de Finados era tanto que até a coluna Sorria… evitava publicar piadas. “Hoje é um dia de lágrimas e dor, em que todos prestam suas homenagens aos seus entes queridos. Sorria pede um minuto de silêncio a eles.”
Há 25 anos, em 1999, O Democrata também destacava o Cemitério da Paz, mas agora com uma questão político-administrativa. Com o título “Ainda o Caso Cemitério”, o vereador Niltinho Bastos criticava o polêmico decreto do prefeito
Nolasco Godinho, que estipulou a taxa de R$ 800,00 para a manutenção de túmulos nos cemitérios municipais, inclusive para os túmulos “perpétuos”. Hoje, o valor corresponderia a R$ 3.515,40 hoje, considerando uma taxa média de inflação ao longo dos anos.
Algumas semanas depois, o assunto foi retomado, quando o prefeito apresentou projeto com nova redação, que ampliava “a esfera de opções de prazo e isenção do pagamento de concessões às pessoas comprovadamente carentes, e a ampliação da renovação não apenas para 5 anos, mas também para 10, 15, 20 e 25 anos.” No Cemitério do Cambará, o prazo manteve-se em 5 anos.
Há um século, a edição de 26 de outubro de 1924 informava que as missas de domingo seriam realizadas na segunda-feira. “Caindo, este ano, a comemoração de todos os defuntos em domingo, as três missas passarão para a segunda-feira imediata.” Mas confirmava a romaria solene ao cemitério ao meio-dia. “De modo que os fiéis que desejam mandar benzer particularmente as sepulturas dos seus defuntos queridos poderão fazer indiferentemente no domingo ou na segunda-feira. Avisa, porém, o vigário [Padre Antonio Pepe] que esses fiéis notifiquem com antecedência o seu desejo, dando os nomes ao encarregado da sacristia da Igreja da Matriz para o pedido da Indulgência Porciúncula, como ocorre no dia 2 de agosto, mas que seja aplicada para o perdão das benditas almas do purgatório, para que recebam o perdão e sigam para o paraíso.”