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Jub Aparecido de Oliveira

No início dos anos 80, a Seleção Brasileira dava show de bola sob o comando de Telê Santana e os craques Zico, Sócrates, Falcão e companhia. A política estava agitada com a democracia renascendo com as eleições quase gerais de 1982 (ainda faltava a sonhada eleição para presidente). O voto era vinculado onde todos os candidatos tinham que ser do mesmo partido do governador ao vereador.

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Jub Aparecido de Oliveira: cantor e amigo de infância faleceu em 25 de maio de 2015

Tudo isso com muita música. A Banda Blitz renovava o cenário nacional com o “Você Não Soube Me Amar” e dupla Chitãozinho e Xororó inovava na música sertaneja com guitarras elétricas fazendo o Brasil inteiro cantar “Fio de Cabelo”.

Nesse clima eu queria ser jogador de futebol, locutor esportivo, jornalista, cantor e compositor. Na verdade eu queria mesmo falar no rádio. Tudo era tão distante e ao mesmo tempo tão próximo. Como jogador de futebol não tinha a mínima chance, mas eu poderia falar de futebol. Cantar também não dava. Pra mim música e rua foram feitas para se atravessar. Eu desafinava, mas podia ser compositor.

Foi aí que eu resolvi procurar dois irmãos que eram vizinhos da minha tia Irene na rua Tibério Justo da Silva. Jub e Zé Eduardo de Oliveira eram os parceiros ideais. Eles formavam uma dupla sertaneja e até acho que já cantavam na capela de Nossa Senhora de Fátima, no Bairro do Cambará. Eram os filhos do seu Eduardo e da dona Neusa e tinha o caçula Pedrinho.

O Jub eu já conhecia porque a gente estudava na Escola Estadual de Primeiro Grau “Barão de Piratininga”. Não tive a menor dificuldade de me aproximar porque o Jub sempre foi boa gente. Uma pessoa educada, humilde, amigo de todo mundo e se não estou enganado ele tinha bronquite.

Diferente mesmo era o seu nome. Devo ter perguntado a origem, mas se teve uma resposta não me lembro da explicação. Era chamado de Jubiloso a até de Jubilado, mas com pouco mais de 10 anos também tinha o apelido de “Véio” (Velho) porque tinha “barba”. Sabe quando você está “virando homem” e fica aquela penugem no rosto e a mãe fala pra não passar a gilete porque senão vai engrossar o pelo e a gente ainda é muito criança para ter barba? O Jub tinha uma vasta penungem.

Em 1982, tínhamos 15 anos quando decidimos entrar em um festival de música promovido pela discoteca Charme Dance de propriedade do advogado Jorge Rabelo de Morais e que ficava na Avenida Brasil em frente à São Luiz Materias de Construção. O Jub e o Zé Eduardo pediram duas letras eu mandei “De Ponta Cabeça” e“A Velha Imagem”. Acho que foi o Zé que fez a música… E sabe o que aconteceu?

Ganhamos primeiro e segundo lugares com “A Velha Imagem” sagrando-se a grande campeã. Voltamos para casa com troféu e combinamos que ficaria uma semana na casa de cada um. Acabou ficando em definitivo com os irmãos.

Mas vale uma explicação. Foram inscritas vinte músicas no festival sendo dezoito de um grupo de rock que agora não lembro o nome. Na primeira eliminatória foram nove músicas deles contra uma nossa. Houve um problema qualquer com a organização e o grupo decidiu abandonar o festival. Ou seja, só as nossas músicas concorreram. Trago comigo que eles se assustaram com a concorrência. Por isso, não considero uma vitória por WO algo talvez inédito na história da música. Quanta ironia, meu Deus!

Um momento de grande emoção foi quando Jub e Zé Eduardo se apresentaram na Rádio Universal de São Roque em um domingo à noite no programa do Tião Campeiro. Eles cantaram “Canoeiro” de Cacique e Pajé que começa assim: “Domingo de tardezinha, eu estava mesmo a toa e convidei meus companheiro pra ir pescar na lagoa”.

Pena que a dupla não seguiu cantando porque eles estavam meio divididos entre cantar sertanejo ou rock brasileiro que também ganhava força. O grande sucesso do momento era Ritchie e sua “Menina Veneno”.

Andamos fazendo mais alguma coisas juntos. Eles também musicaram uma canção sertaneja chamada “Os Tropeiros”. Eu vivia fazendo paródias e queria que eles cantassem. Mas cantar aonde? Mudava até letra de música de igreja. O canto de comunhão “Procuro abrigo nos corações de porta em porta desejo entrar. Se alguém me acolhe com gratidão, faremos juntos a refeição. Eu nasci pra caminhar assim…” Foi transformado em “Procuro a falha dos zagueirões de toque em toque desejo entrar. Se alguém consegue fazer o gol, faremos juntos a comemoração”. Pode?

Lembro que chegamos a participar de um concurso na Rádio Universal para criação de um comercial para a Lojas Carambella. Rimei Carambella com “tudo para ele e para ela”. Até hoje não sei se alguém ganhou a promoção. Nós ganhamos experiência.

Mas a minha parceria com os irmãos terminou por aí. Nesta altura do campeonato eu estava pentelhando a vida de outro colega, o Denir Roque da Silva que também morava no Cambará e que era operador de áudio na Rádio Universal de São Roque. Se o Jub e o Zé sofriam comigo porque eu estava toda hora da casa deles tentando emplacar minhas letras, agora era a vez do Denir ser perseguido por mim no recreio do Horácio Manley Lane e na caminhada de volta para casa sempre insistindo com a minha vontade de ser locutor esportivo.

Até que um dia finalmente venci pelo cansaço e consegui que ele levasse uma fita K-7 com a gravação da final do Campeonato Brasileiro 1983 que fiz assistindo o jogo pela TV (algo que lamentavelmente viraria rotina alguns anos depois no rádio esportivo brasileiro). Chamado no dia seguinte pelo locutor Rodolfo de Lucca Júnior e pelo comentarista Taufic Elias Fandi Júnior para fazer um teste deixei de lado a vida de compositor. Apesar que andei escrevendo mais algumas coisas. Enquanto isso, o Jub seguiu com a música fazendo parte da sua vida profissional.

Tudo isso veio à tona porque na noite do dia 25 de maio de 2015 recebi a notícia da morte prematura de Jub, aos 49 anos (10 de novembro de 1965). Segundo informações, teria caído na escada da casa por volta das 14 horas e socorrido consciente até a Santa Casa de São Roque faleceu uma hora depois do acidente. Teria sofrido uma hemorragia no cérebro e não resistiu. Além das apresentações na região, Jub era professor de violão, viola e cavaquinho no Conservatório Musical J.S. Bach. Também fazia um trabalho especial com os alunos da APAE-São Roque. Acrescento aqui que estava no velório quando os alunos da APAE foram prestar a última homenagem ao professor/amigo. Foi um momento de grande emoção com os alunos cantando e o filho Jubinho acompanhando no violão.

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Jub e Banda: atração na festa de São Roque onde também abria espaço para calouros

De repente veio a lembrança dele menino correndo desajeitado pela ponta nos campinhos de terra e na quadra da escola Barão de Piratininga. Sua simplicidade e sua alegria de levar tudo na boa. Veio a lembrança dele cantando nas missas, nas Festas de Agosto (Praça da Matriz), puxando samba enredo na avenida e animando o baile de marchinhas do São Roque Clube. Veio a última lembrança quando no dia primeiro de maio encontrei com ele na porta lateral da Igreja de Bom de Jesus de Pirapora na Romaria dos Cavaleiros de São Jorge. Foi tudo muito rápido, mas alegria de sempre de rever um amigo e de saber que um dia compartilhamos os mesmos sonhos e depois cada um seguiu o seu caminho.

Veio a lembrança da música “ A Velha Imagem” que nos deu tanta alegria naquela noite de conquista e que tantas vezes combinamos registrar em uma entrevista. A letra fala de um imigrante espanhol que veio para o Brasil (São Roque) e que nunca mais voltou para o seu país pois sabia que não encontraria por lá o que deixou há tantos anos. Jub, o mesmo vale para nossa amizade:

“Por isso fujo da realidade

E evito uma viagem.

Quero mesmo na verdade

É manter a velha imagem”

 

*Texto escrito no dia da morte de Jub (25 de maio de 2015)

Vander Luiz

São-roquense, radialista e jornalista

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